AS HISTÓRIAS DE UM CASTANHEIRO CENTENÁRIO
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Dam Nascimento
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Ele fala da cultura dos antigos índios, de suas festivas lutas de Quarup; relembra os hábitos de fazer tapioca e usar saúvas em seus ferimentos e culinária; de seus rituais de maturidade e pajelança. Um povo que temia a Iara dona dos rios. Suas cascas buscam os cantos da senzala, na noite onde tudo descansa. A preta velha dançava, benzia e jogava búzios no sereno da madrugada que lhes permitia a vida muito embora quase não chegasse aos trinta e cinco, quarenta anos. O s resíduos ao redor de suas raízes vibram ao lembrar a italiana que plantava parreiras e cantarolava o dia inteiro. Recita poemas que ficaram gravados em seu caule de um período em que a serenata era a arma dos apaixonados. Contava alguns milagres de Natal e referia-se a uma gente muito simples que era extremamente feliz. Acreditava-se que aquele povo era iluminado e sabiam que não é só alimento que mantém os seres vivos, mas também o amor que aquece as almas, este ato de amar o transitório. It is a magic tree diriam os ingleses, contudo a árvore é nossa e a chamamos de árvore dos desejos. Contei a ela meus sonhos e aspirações, falei da tarde e de como a cidade mudou e dei a ela dois ícones para incorporar a sua história, um avental de cozinha de uma mulher extraordinária que todos aprendem a amar e o óculos de segurança de um homem cuja a vida é dedicada a salvar outras vidas. Agora minha árvore, cuide de meus sentimentos para que com a mudança, o meu coração não aperte. Pela milésima vez, coloco a mochila nas costas e ponho o pé na estrada. |