VESTIDO DE ANJO
Waldyr Argento Júnior
 
 

Era do tipo tranquilo, sempre de bem com a vida, de vez em quando, ou melhor, de vez em sempre tinha o hábito de, como ele mesmo dizia, “se vestir de anjo”. Nome ao qual ele dava ao fato de se vestir no interior do recinto (casa dos sonhos), sempre um roupão branco.

Numa dessas idas e vindas ao “paraíso”, nosso herói estacionou o seu “Simca Chambord” prateado na porta do estabelecimento. Como de praxe, a atendente cumprimentou-o com um sorriso nos lábios e entregou-lhe as chaves do armário. Tendo em vista que o nosso protagonista estava sempre acima do peso, na hora de pedir a tal “Fantasia de Anjo”, usava sempre a tradicional frase:

”Eu quero um roupão for men”, a moçoila do vestiário, que já entendia a senha do “Dom Juan Angelical”, pegava um extra-large para FENEMÊ. Adentrando ao salão principal, nosso “Dom Juan” era o rei, pagava drinks para algumas moças e as vezes fazia um programa “bi-campeão” (duas de uma vez).

Nesse dia aconteceu o inesperado, a bela atendente do “paraíso”, notou que uma distinta e bem vestida senhora estava andando de uma lado para o outro, olhando ora para a entrada do recinto, outra para o automóvel do nosso herói.

Apavorada, a atendente anunciou “discretamente” o nosso agora “triste” personagem.

— Dr. Angel, telefone urgente, favor comparecer à recepção.

Nosso preocupado “James Bond angelical” adentrou ao local do crime, meio assustado.

— Tem uma “Lady” aí fora que não para de filmar a nossa entrada e o seu carrão. — Disse a moçoila.

— Ih caramba ! É a “Dona encrenca” em pessoa ! — Bradou o “pseudo-anjo”.

— Ih agora, o quê que eu faço ? — Indagou o “infrator angelical”.

— Tem uma saída pelos fundos, acho melhor o Sr. Sair por lá ! — Aconselhou-o a bonita mocinha.

E foi isso mesmo que aconteceu, nosso “James Bond (Angel in white)” saiu de fininho “à francesa” pela porta dos fundos e foi até o “Bobs” da Rua Antônio Carlos (Rio de Janeiro).

Pediu um “Big-Bobs” com “molho angelical”, se lambuzou todo e voltou cheio de decisão para a porta principal do “paraíso”, que agora para ele, mais parecia uma “guilhotina francesa”.

Ao chegar ao “baile funk”, o “predador” olhou o seu “mais alto inimigo na cadeia alimentar”, “bufando” pelas ventas feito uma “vaca louca”.

— Lulu, eu vou te matar seu canalha! Que fazes aqui em frente a esse bordel ? Teu carro estacionado nesse “aeroporto”, quantos “aviões” tu abatestes safado? — Gritou a descontrolada esposa.

- “Que “avião” que nada amor. Você é que é meu “Boeing 747”, não saio de casa sem pensar em como tu voas comigo, e como eu fico feliz em voar contigo. Eu é que pergunto, o que tu fazes aqui no centro da cidade a essa hora da noite? Porquê não estás em casa preparando o meu jantar? — Indagou o “Mr. Angel”.

— Benzinho, eu vim visitar a minha tia “Hilda” e vi o nosso carro parado em frente a esse “espaço de lazer”, pensei então que estavas a me trair com alguma dessas “vagabundas”. — Tentou se explicar a cônjuge atônita.

— Quê que é isso meu “pitelzinho”? Você está vendo filme demais na TV, está imaginando coisas! Volta logo para casa que eu vou dar uma passada no escritório para terminar de resolver um problema e daqui a umas duas ou três horas estarei de volta ao nosso “ninho de amor”. — Ordenou-lhe o “coroa arrumado”.

— Tá bom, eu vou correndo preparar uma comida especial para você, te espero pacientemente para o jantar. — Saiu de fininho a “Amélia arrependida”.

— Anda logo e dê graças à Deus de eu não armar um barraco aqui, Tchau ! — Expulsou de vez a “polícia” do “local do crime.

Voltou para casa cheia de culpa, a nossa “Dona de casa” enganada. Estava certa de que seu esposo era o melhor de todos os maridos.

É por isso que eu digo: As aparências enganam, mais vale um marido na mão do que desconfiar de um carrão estacionado num lugar suspeito! Ou seja, Não meta o “bedelho” onde não é chamada, ou melhor ainda, não se meta onde o cônjuge exerce o direito de “amar o trasnsitório” sem ser importunado!