RELES IMORTAL
Beto Muniz
 
 

Chega de contar historinhas, reminiscências bucólicas, poeiras da vida rural. Eu queria contar uma história que fosse modificar o mundo, que entrasse para os anais da literatura como a mais bela história já inventada pelo homem, porém, ser escritor é um trabalho complexo que não termina quando uma boa história está pronta, terminada, com a palavra fim escrita lá embaixo. Existem inúmeras etapas pós-escrita e elas derrubam o ânimo e a vontade em me dedicar a escrever a belíssima história que tenho em mente. Preciso antes de tudo escrever, claro, logo em seguida encontrar um editor que avalie o texto e caia de amores por ele. Depois preciso que o livro seja editado, impresso e distribuído nas melhores e maiores casas do ramo com um trabalho de marketing excepcional para alcançar o leitor que nunca ouviu falar em mim e por isso dificilmente compraria o meu livro - esse que narra a mais bela história já inventada pelo homem.

(devo esquecer tudo que foi digitado até agora e reiniciar)

Contar um conto e aumentar um ponto é o escambal! Eu queria contar uma história, belíssima história. Ela não precisaria modificar o mundo, nem entrar para os anais da literatura como a mais bela história já inventada pelo homem, bastaria ser bela. Que apenas fosse original e uma das mais belas da literatura. O primeiro passo é escrevê-la, porém, minha mente guarda a bela-história-simples e solta o pensamento que ser escritor é um trabalho complexo que não termina quando uma boa história está pronta, com a palavra fim escrita lá embaixo. E os pensamentos desfilam, me fazem lembrar as inúmeras etapas pós-escritas. O desânimo derruba a vontade em me dedicar a escrever a história simples que tenho em mente. Eu precisaria que um editor avaliasse o texto e o considerasse publicável. Em seguida que o livro fosse editado, impresso e distribuído em algumas livrarias com alguns banners e cartazes informando ao leitor sobre a existência de um novo autor publicando seu primeiro livro.

(devo esquecer tudo novamente)

É pedir muito? Eu queria escrever uma história. Qualquer história. Ela não precisaria ser publicada em livro com meu nome na capa.Eu só queria vê-la impressa numa página de alguma antologia coletiva. Outros autores dividindo comigo as páginas do livro e lendo minha história e achando que ela só não é mais bela que a sua própria história também publicada. Mas...

(esquece...)

De verdade, espero escrever algo que agrade alguém e num futuro distante esse alguém se lembre que um dia leu algo de minha autoria.

(estou bem mais modesto dessa vez e não é preguiça ou conformismo, é saber o quanto ser escritor é trágico)