MEMÓRIA
IMPLACÁVEL?
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Waldyr
Argento Júnior
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Dona Mentira morava na rua do Artigo número um sete um, pertinho da casa de Madame Injúria. A tal Senhora era casada com Dom Insulto e tinha um casal de filhos, o menino era carinhosamente chamado de Putinho, uma inflexão dedutível da manjada palavra: Deputado, no diminutivo, Deputadinho, daí foi só um pulo para o apelido, muito engenhoso, não acham? A menina era conhecida como Libido, não me perguntem o porquê, por favor. A Libido, por razões óbvias vivia excitada e tinha uma dificuldade enorme de se apegar aos namoradinhos. Adorava ler Freud ou Jung, atividade quase sempre terminada ou intersectada por um tradicional ato de auto-conhecimento. Dom Insulto ficava fulo da vida, mas não adiantava nada, a menina era fogo, ou melhor dizendo, tinha um fogo que não se apagava. Certo dia Putinho inventou uma rifa de uma camisa. Vendeu cem números por um real cada, o garoto levava jeito. Desde pequeno já demonstrava habilidade e para comprovar sua fama. Dona Esperança está até hoje esperando a entrega do prêmio. Ela até tentou obter uma resposta positiva da família, mas Dona Mentira informou que Madame Injúria estava viajando com Dom Insulto e que iriam demorar muito pra voltar a Brasília. E assim como Putinho e Libido outros e outras foram se espalhando pela capital da Ré Pública. Hoje em dia é essa situação que a gente está quase se acostumando. Memória falha, memória que reelege esses Putinhos e essas Senhoritas. Acho que é hora de acordarmos a Dona Esperança, pois quem espera nunca alcança. |