MAESTRO
ANANIAS
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UMBERTO
GONÇALVES
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Seu Ananias era um cabra bom, como diziam todos da cidade de Santa Isabel. De Carnaíba até Serra Talhada, passando por aqui, todo mundo gosta dele. O mal era a canjibrina! Quando o danado começava a beber, passava três ou quatro dias enchendo o saco de quem encontrasse pela frente. Era o maestro da banda local. Quando era chamado de Maestro Ananias, fazia uma pose de importante e andava tão empertigado que pensavam que ia cair. Era um homem alto, cheio de pose, tinha orgulho de dizer que conhecia bem a língua portuguesa. Em casa, sempre consultava o dicionário, aprendia e guardava novas palavras difíceis para mostrar sabedoria na frente do povo inculto da Cidade. Hoje ele estava apenas começando um porre de sei lá quantos dias... Olhou demoradamente para o dono do boteco e falou: - Só de olharrr para a boca de qualquer um, sei que instrumento toca. - Não entendi. (falou seu Adonias) - Por exemplo, Adonias. O Palito... O magrinho ali, toca sax. - Ora, Maestro, ele toca na banda... - É verdade. Veja outro aí... - O gordinho que trabalha na farmácia..Esse ali da mesa 22... - O de barbicha? falou tombando para a esquerda. - Ele mermo. - Ah! Ele toca trompete. vaticinou - Mas ele num toca nem... Sabe o que, né? - Toca sim, se num é trompete...- olhou detidamente para o incauto e continuou - Ele deve tá botando a boca onde não deve. Mas a boca dele... O rapaz, chateado, nem esperou. - E você, pelo visto, toca garrafa, com esses beiços de garrafa. - Ora, meu caro - falou até sorrindo -, você também não sabe falar direito. De fato, estou tocando garrafa, mas não é beiço de garrafa. Você deve dizer Lábios de Garrafa! Sorriu para o rapaz, para o dono do boteco, segurou o copo, tomou uma golada e continuou. - Lábios de Garrafa. Não quero mais conversar com pessoas que não sabem falar. Pediu a conta, pagou e retirou-se cambaleando para outro bar. |