UM VERDE, QUEM SABE?
João Gilberto Engelmann
 
 

É verdade que cansei de tristeza! Ora, se de duas uma, ou somos alegres ou felizes, opto pela felicidade! Não que esteja em berço esplendido ou imerso em mar de rosas. Não. Até que tenho minhas chateações corriqueiras. São os infortúnios triviais. Normais. Bom, uma vez que compõe minha normalidade não há porque temer, afinal, são efêmeros momentos de reles engodos que sentimos, ora.

As vezes paramos pra pensar. Sucedeu-me hoje. Não que, exceto hoje, não seja eu um pensante ativo. Não é isso. Mas é bom parar pra simplesmente pensar na vida. Uma parada estratégica, necessária. Percebi o quanto gasto tempo me martirizando com coisas que ainda não aconteceram. Sofro por antecedência, sabe? Ah, tenha dó! Tive. Dó daquele tempinho precioso em que me introverto nas angústias que pairam sobre todo mundo. Vou gasta-lo agora tocando violão, ou lendo Cecília Meirelles, Guimarães Rosa; escutando os tons de Tom, Chico, Toquinho; desenhando quadrinhos bem humorados da Dona Celda e major Babinho; ou simplesmente tomando meu chimarrão quente, ação esta que já me rendeu críticas pelo excessivo número deles que ingiro. Ah tchê – pra usar então um termo gaúcho (ou não?)- me acompanhe, pois.

Aliás, falando em tristezas e alegrias, faces de uma mesma cédula – acho moeda tão em desuso- lembrei-me do aniversário de Tom Jobim. Oitenta anos faria. Mas neste caso, saudade/tristeza mescla-se à lembrança/felicidade. Isso porque faria muita arte se ainda estivesse conosco; mas ainda ficamos alegres ao ouvirmos uma Garota de Ipanema. Jubilosa Elô Pinheiro. Garota de Ipanema e de sorte. Ah, preciso lembrar: “Olha que coisa mais linda mais cheia de graça, é ela menina que vem e que passa, no doce balanço e caminha pro mar” E já me sinto melhor. Em meio a um rio de besterol- nem dicionário tem ainda essa gíria e já é tão comum na música- bóiam verdadeiras obras sonoras. E fazemos votos de que sobrevivam.

È, mas este suspiro que ninguém ouviu não é de tristeza. Afinal, recém escrevi ter banido-a de minha vida. É saudade, acho. È porque essas pensadas na vida de que falava fazem-nos lembrar de inúmeras experiências e pessoas que pintaram o sete de nossa vida. Não que tenha meu sete já todo pintado. Não, sou bem jovenzinho ainda. Exijo muita tinta ainda. Ora! Mas até os jovenzinhos sentem saudades de tempos passados. Tempos passados, passados não há muito tempo, mas já evocam sentimentos. Sentimentos que renascem com o pensar. Mas como nos lembra o ilustre Sttutgardenho Hegel: “Pensar a vida, eis a tarefa”. E olha que pensar a vida é muito mais que pensar na vida. A vida é pensamento. O pensamento não é momento ou outro da vida. É exercício contínuo e exigente.

E como exercício de dar felicidade, a quem está lendo, no caso, e visto que roncou cá comigo o último chimarrão, vou-me já andando ( bela cacofonia). Vou para a vida, agora já sem tristeza. Vou, como em poesia, fazer soarem as melodias da água sofrendo sobre a ação impiedosa do presente de Prometeu. Nunca usei tanta poesia para simplesmente dizer que vou aquecer mais água para o chimarrão. Perceba! Tudo pode desenhar-se como poesia e alegria se soubermos beber da fonte do bem e da paz consigo mesmo. Assim, em paz comigo mesmo, viajo a um segundo round no contexto erva, cuia, bomba, etc. (Sempre quis acabar uma crônica com “etc.”)