PRANTO DE UM POVO
Carvalho de Azevedo
 
 

Não nascemos escravos
Fomos escravizados!
Arrancados de nossa terra
Fomos trazidos para cá
Em porões fétidos
De viagens intermináveis.
Muitos de nossos
Parentes e amigos de infortúnio,
Morreram
E foram jogados ao Mar.
Melhor assim talvez,
Ao menos, não foram açoitados
Feito animais,
Ao menos, não viram suas mulheres
E filhas serem violentadas, estupradas.
Mortos e jogados ao Mar,
Conservaram um mínimo
De dignidade.
Conservaram a ilusão e a
Esperança de tornar
Ao berço.
Lá, de onde fomos tirados, éramos,
Reis, Príncipes, Sacerdotes, Caçadores!
Mas, sobretudo éramos livres!
Fomos escravizados
Subjugados e submetidos
Durante séculos
A uma condição subumana
Que nos deixaram marcas
Que não se apagaram jamais.
Arrogantes e prepotentes,
Decidiram e influenciaram nossos destinos
E hoje, simplesmente,
Como se nada houvesse nos tratam
Debaixo de segregação e preconceito
Como se esta Nação,
Não tivesse sido construída
Também
Com nosso sangue, suor, lágrimas e
Extremados sacrifícios.
Como se a Nação Brasileira
Cultural e Etimologicamente
De nós nada tivesse,
De nós nada herdasse,
A nós nada devesse.
Não queremos decretos
Exigimos apenas respeito!