OS PARANORMAIS: DOIS CAMINHOS, UM ENCONTRO
Bruno Pinheiro de Lacerda
 
 

(...)


A alegria e a tristeza, a riqueza e a pobreza, o desespero e a esperança, a burrice e a inteligência, o egoísmo e a solidariedade, tudo isso é tão Estados Unidos e tão Cazaquistão, tão Japão e tão Brasil! Tudo isso é tão eu quanto você! Então, se todos os sentimentos e condições estão contidas em todos os seres humanos (mesmo que em alguns homens algumas condições e alguns sentimentos prevaleçam, enquanto em outros homens outros sentimentos e outras condições prevalecem), por que há guerras? Ora, é fácil! O que acontece é que um ser humano não é capaz de reconhecer um irmão, somente porque, diante de um mesmo problema, os dois tomam caminhos diferentes para chegar no mesmo lugar ao mesmo tempo! Quanta intolerância, quanta falta de compreensão! Reconhecer um irmão deveria ser mais fácil _ mas não é _ para aqueles capazes de mover o universo com um só pensamento, aqueles chamados de: OS PARANORMAIS!


A luta entre Caio e Leandro acabou bem, sem muitos problemas: Leandro desistiu. Ele percebeu que o amigo lutaria até a morte, caso fosse necessário, e decidiu pela desistência, já que o sonho de Caio vale mesmo a pena! As outras lutas que ocorreram não foram tão importantes, mas ajudaram o tempo a passar mais rápido. Agora chegou o grande dia, a grande hora: agora, era Caio contra Daniela _ a luta mais esperada desde o início do torneio. Haverá vencedor nessa batalha? Quem vencerá? O que poderá acontecer no reencontro entre esses dois?


Caio chegou na arena vinte minutos antes da luta começar. O narrador narrava:


_ Olá, minha gente, olá, meu povo! Hoje é o grande dia! Esta certamente é a luta mais esperada de todo o torneio! É, certamente, a final antecipada! O vencedor deste combate vai vencer este torneio com certeza! Hoje, é Caio contra Daniela! E aí, Comentarista? O que você espera deste duelo?


_ Vai ser fantástico, Narrador! Os dois não mostraram tudo o que sabem e... Mesmo assim, venceram suas lutas com uma certa facilidade. Bem, este será “O DUELO DE TITÃS”!


_ É isso aí! E... Quem vai vencer?


_ Ah, Narrador, eu não sei, mas... Se tivesse que apostar em alguém... Bem... Pensando melhor... Eu não apostaria em ninguém não. Caio é determinado e sabe muito bem como virar o jogo. Por outro lado, Daniela é a maior estrategista que eu já vi. Penso que, aquele que conseguir mudar a estratégia inicial do outro, vencerá.


_ É, pode ser. Eu vou torcer pra Caio... Bem... Quer dizer... Bem... Eu não devia dizer isso...


_ Tudo bem, Narrador, eu vou torcer pra Daniela, porque gosto mais de lutadores estrategistas. E, também... Ela é...


_ Tudo bem, Comentarista, nós já entendemos. Mas... Aquela garota me dá medo! E eu acho que todos aqui também vão torcer por Caio! E... Olha lá! Entrando na arena agora... Caio! Ele está entrando como sempre: sorridente, feliz e aplaudido! A torcida enlouquece, grita, aplaude, é incrível! Caio é, sem dúvida, o preferido de todos! Ele é bem carismático também, não é? Olha lá, ele mandando beijinhos pra torcida! É um lutador fenomenal! Ah, não! Olhem! Entrando agora na arena, no lado esquerdo... Daniela! Ai, que medo! Aquela cara fechada de sempre... Oh! Vai ter rugas rapidinho, hem? E, dessa vez, a galera vaia! E... Olha lá! Daniela agradece as vaias! É mesmo muito... Nem vale a pena comentar! Faltam vinte minutos para começar a luta, minha gente!


Caio estava tenso. Aquela seria, indubitavelmente, a luta mais difícil de todo o torneio. Ele pensava:


_ “Sei que Daniela é estrategista. Sei que ela vai tentar fazer com que eu ataque primeiro, para conhecer todos os meus ataques e, depois, contra-atacar e vencer. Se eu deixar que ela faça isso, ela vencerá. Então, o que tenho que fazer é induzi-la a atacar. Mas... Como? ... Não sei por que, mas... Sinto como se eu já a conhecesse, ela tem uma energia tão familiar!... Mas... Por quê? Eu não entendo! Ah, aquela capa horrível que ela tem em volta do corpo... Aquela capa é pesada... Mas, também, é feita por uma energia pesada... O ódio! Mas... O que ela odeia tanto? Parece que, por trás daquela capa de ódio, há uma energia tão pacífica quanto a minha... Sinto que conheço aquela energia por trás dessa capa... Mas... Como? Eu não entendo! ... Ah, já sei! Tive uma idéia que pode me dar a vitória!”


Nesse momento, caio se lembrou do que Melissa lhe dizia: _ “Se você quer alcançar seus sonhos, siga seu coração. Sua razão pode não compreender, às vezes, mas o coração compreende a alma e, por isso, erra menos. A lógica é fria e nos leva, na maioria das vezes, ao egoísmo; o coração é aquele que entende a alma, é feito de amor e, por isso, nos leva à solidariedade e, também, aos nossos sonhos! Não se esqueça disso, Caio: siga seu coração e você realizará qualquer sonho!”. O coração de Caio, naquela hora, dizia que ele não deveria buscar a vitória, mas sim, deveria tentar tirar a capa daquela menina. Caio não entendia, não sabia o que fazer.


Daniela não pensava em nada: ela apenas se concentrava e se preparava para acabar com aquele garoto! Ela não podia perder, não mesmo! Ela venceria a tudo e a todos! Até conseguir realizar seu sonho... Ela só pensou:


_ “Caio é idiota. Ele sempre ataca primeiro nas lutas. Vou deixá-lo atacar e, na hora certa... Eu vencerei!”


A torcida gritava o nome de Caio. Ele sorria. Daniela disse:


_ Você é bem popular, não é? Será que eles gostariam tanto assim de você se soubessem das suas intenções iniciais, daquelas que você tinha quando chegou aqui?


Caio percebeu a oportunidade de começar a colocar seu plano em prática. Ele disse:


_ Não sei... Mas, se eles conhecessem minha história, sei que me dariam razão. E... Também, eu não me importo com popularidade, embora não possa negar que gosto mais de ser simpático. Prefiro o sorriso à cara fechada, sabe? Não quero ter rugas no rosto muito cedo... Você, por outro lado... Bem, ninguém aqui parece gostar muito de você, não é? Nem mesmo Amanda... Será por quê?


Caio sorria; ele usava um tom divertido na voz, era nítido seu sorriso, era clara a sua diversão com aquela situação. Daniela falou:


_ Eu vou lhe tirar esse sorriso do rosto.


_ Vai mesmo? Bom, não vai ser tão fácil! Principalmente porque, com essa capa que você tem em volta do corpo... Bem... Você fica muito lenta, sabia? Não vai conseguir acertar um ataque sequer em mim!


_ Isso é o que nós vamos ver, garoto! Você se acha muito esperto, não é?


_ Logo você perceberá que sou muito mais esperto do que aparento, menina!


_ Ah, é mesmo? Isso vai ser interessante...


_ Vai sim. Mas... Não pense que, escondendo atrás dessa capa, você vai conseguir evitar meus ataques, Daniela, porque, como já provei no nosso combate anterior, sua capa não significa nada para mim.


_ É mesmo? Faz-me rir, garoto! Então, você acha que vai conseguir me atingir?


_ Eu não acho, tenho certeza!


_ Ah... Interessante. Vamos ver, então!


_ Você verá!


A hora do início da luta chegou. O Narrador falou:


_ Muito bem, galera! Vai começar o grande combate!


O juiz perguntou:


_ Vocês estão prontos?


_ Há muito tempo! _ Daniela respondeu.


_ Sim _ respondeu Caio.


_ Então, prepara... Lutem!


Daniela esperava um ataque rápido, o qual não ocorreu. Ela se espantou; Caio não a atacaria? Por isso, sinceramente, ela não esperava. Por que ele fazia aquilo? Por que ele não a atacava? Não queria vencer? Era isso? Daniela não entendia. O tempo passava e Caio continuava ali, estático. Daniela incomodou-se com isso.


_ Não vai atacar? Não quer vencer esta luta? Ou... Será que você está com medo? _ Daniela provocou.


Caio se alegrou com isso: ele estava conseguindo o que queria. Ele respondeu, calmamente:


_ Bem, eu não estou com medo. Por que eu deveria? Você é ridícula!


_ O quê?


_ Bem, se eu a atacasse pra valer, venceria a luta com um golpe só.


_ Faz-me rir, garoto! Você não ataca porque tem medo!


_ Repito: não é isso!


_ Por que você não prova, então?


_ Tudo bem: vou tirar cinco por cento da sua energia vital. Acho que você ficará no chão, também. Está pronta?


_ Vamos ver!


Caio lançou uma bola de energia contra Daniela; a bola era muito veloz. Não é que Daniela não fosse veloz, o caso é que a bola de energia era bem mais veloz que ela e, por isso, Daniela não conseguiu se desviar. Ela foi atingida em cheio e foi ao chão. A energia vital de Daniela ficou em 95%. Ah, não! Não podia ser! Como aquilo era possível? Aconteceu exatamente o que Caio havia dito: a capa não adiantou de nada, ela perdeu 5% de energia vital e, também, ficou no chão. Por quê? O Narrador contou o fato:


_ E muito bem: começa a luta! Caio deve atacar primeiro... Espera! Os dois estão parados! Nenhum dos dois atacou! O que está acontecendo? Eu não entendo! Comentarista...


_ Bem, eu também ainda não entendo...


_ Os dois continuam parados ali, sem fazer nada. Nossa! Incrível! Daniela está no chão! Mas... O que aconteceu? Vamos ver em câmera lenta. Olhem lá... Ah, sim! Caio lançou uma bola de energia contra Daniela e a acertou em cheio! Ela nem teve tempo de se desviar e... Pela cara de susto, não esperava pelo ataque também! Mas, como acontece sempre, a energia vital dela não deve ter se alterado... Oh, não! Olhem lá! A energia vital de Daniela se alterou sim, caiu para noventa e cinco por cento! Ah, Caio é um exímio lutador! Eu acho que ele vai vencer este combate! E aí, Comentarista?


_ Bem, Narrador, parece que a defesa de Daniela não funciona contra Caio.


_ É, parece que é isso mesmo.


Caio disse:


_ Por que não se levanta? Será que a capa em volta do seu corpo pesa tanto assim? Ou será que você nunca caiu numa luta?


Daniela teve dificuldades para se levantar. Ela não conseguia entender como tudo aquilo havia acontecido. Ela nem conseguiu sentir a bola de energia indo em sua direção! Ela só sentiu quando foi atingida e... Depois, já estava no chão! Ela não entendia. Caio falou:


_ Bem, como eu lhe disse, sua capa não significa nada para mim. Você é ridícula!


_ Você disse que poderia me vencer com um golpe, não é? Então, por que não fez isso?


_ Ora, menina, assim não tem graça! Não vale a pena vencer sem se divertir!


_ O quê?


_ Quero ver do que você é capaz, mas... Para isso, acho que terei de tirar a sua capa.


_ O quê? Então, você acha que vai tirar a minha capa?


_ Bem, eu não acho, vou. Minha mestra sempre dizia para que eu seguisse meu coração, mesmo que eu não o entendesse. Bom, o que ele me disse foi: tire a capa dessa garota; é isso, precisamente, o que vou fazer. Meu objetivo agora não é mais vencer este combate, meu objetivo é tirar a sua capa.


_ Isso é patético!


_ Diga-me uma coisa, Daniela: por que você se esconde atrás dessa capa? De que você tem tanto medo?


_ Cale-se! Já chega!


Daniela lançou uma enorme e densa bola de energia contra Caio; este, desviou-se. Daniela lançou mais algumas bolas de energia, mas, Caio se desviava facilmente de todas. O narrador dizia:


_ Incrível! Daniela lançou uma densa bola de energia, mas, Caio se desviou! Ela lançou mais bolas... Olha lá! Incrível! Que velocidade! Ah, mas Caio é bem mais veloz! Ele se desviou com facilidade de todas! Daniela está atacando ferozmente, mas, tudo inútil! Caio escapa de todos os ataques!


Enquanto atacava, Daniela dizia:


_ Você é muito idiota, garoto! ... Acha que pode me vencer? ... Você não sabe de nada!


_ Não sei? Então, por que você não me conta? _ Caio zombou.


_ Eu vou acabar com você! ...


_ Vai mesmo? E... Como pretende fazer isso? Com esses ataques ridículos?


_ Eu acabarei com você!


Daniela lançava bolas densas de energia. Eram bolas pesadas, cheias de ódio. Caio, facilmente, desviava-se de todas. Em um determinado momento, Daniela foi presa por uma linha de energia em volta de seu corpo. Caio disse:


_ O que houve? Ah, já sei, você não pode se mexer, não é? E... Não me diga que você não percebeu que eu ia fazer isso? Ah, que pena! Agora vou retirar mais cinco por cento de sua energia vital, Daniela! E acho bom você usar todas as suas armas, ou jamais me vencerá! Agora, vá pro chão de novo!


Dizendo isso, Caio lançou outra bola de energia em Daniela; ela foi atingida em cheio pela bola de energia, perdeu 5% da energia vital (ficando com 90% de energia vital) e foi ao chão. Aquilo era absurdo! Caio estava brincando com ela! Por quê? Todos os outros adversários que ela havia enfrentado sucumbiram ao poder dela, mas Caio parecia conhecê-la, parecia que ele era capaz de prever os movimentos e pensamentos dela! Por quê? Como aquilo era possível? Daniela não entendia. Mais uma vez com dificuldades, Daniela se levantou. Caio perguntou:


_ De que você tem medo, Daniela? Por que se esconde do mundo? Por que se esconde atrás dessa máscara de ódio?


_ Eu não tenho medo de nada!


Daniela disse, lançando outra daquelas bolas densas e cheias de ódio, da qual Caio, novamente, desviou-se. Ele retrucou:


_ Isso é mentira! Você tem medo de cair, medo de perder!


_ Cale-se!


_ Você tem medo do mundo, medo de tudo!


_ Cale-se!


_ Por que você tem tanto medo assim? Teria alguma coisa a ver com... Zenildo?


Não era um diálogo comum. Enquanto Caio dizia tudo isso, ele precisava se desviar das bolas de energia que Daniela lançava. O narrador narrava:


_ Incrível! Daniela lança bolas de energia contra Caio, mas, tudo em vão. Caio se desvia de todas e faz o que quer com ela! Caio vai vencer!


Daniela tinha ódio! Como aquele garoto podia saber tanto? Como ele podia saber que... Caio insistiu:


_ Você é muito prepotente, menina. Acha que só você sofreu na vida. Mas... Não é bem assim! De que você tem medo?


_ Cale-se! Você não sabe o que é sofrer! Não sabe mesmo! _ Daniela dizia, lançando densas bolas de energia contra Caio, bolas cheias de ódio. Caio se desviava facilmente de tudo. Daniela continuou: _ Você não sabe o que é sofrer, garoto! Você não sabe! _ Daniela parou por um tempo de lançar as bolas de energia e disse: _ Ninguém aqui sabe mais do que eu o que é sofrer.


_ É como eu disse: você é muito prepotente! Acha que mais ninguém aqui sabe o que é sofrer, é?


_ Cale-se! Você é apenas um idiota que acha que teve uma vida com sofrimentos, mas, não sabe de nada! Nada! _ Daniela amenizou o tom de voz e continuou: _ Eu não conheci meus pais. Mesmo assim, a minha vida não era ruim. Eu era feliz! Feliz! E... Sabe por que eu era feliz, mesmo sem pais? Sabe por quê? Não era pra eu ser feliz, porque eu vivia num orfanato horrível! O diretor de lá me odiava! Mas, mesmo assim, eu era feliz! E... Sabe por quê? Eu tinha alguém que me protegia de tudo, alguém com quem eu poderia contar, alguém que me dava apoio, que era minha fortaleza! Eu tinha o meu irmão, que era tudo pra mim! Mas... O maldito diretor do orfanato nos separou! Nós o enfrentamos, mas... Ah, como é que duas crianças iriam vencer um homem ridículo, mas formado? Como é que... Foi triste a cena da despedida, sabia? Foi muito triste... Meu irmão não chorou, porque ele não fazia isso perto de mim, mas sei que também não ficou feliz. Mas eu prometi que venceria todas as barreiras! E é isso que vou fazer! Eu vou vencer este torneio! E vou vencer tudo! _ Daniela voltou a lançar aquelas bolas de energia inúteis. Ela falou: _ E nada, nem ninguém vai me impedir! Ninguém aqui sabe o que é sofrer, ninguém!


_ Já chega! _ Caio lançou uma bola de energia que bateu na capa de Daniela. Era proposital: ele não queria atingir a energia vital da menina com aquele ataque, queria fazer outra coisa. Acertando várias bolas de energia na capa de Daniela ele disse: _ Você não pode dizer isso, porque não conhece a história de vida de todos os lutadores que estão aqui! Eu também perdi a minha irmã, arrancaram-na de mim! Mas, nem por isso eu vou odiar o mundo! Você é ridícula, sabia? Ridícula! Acha que, odiando o mundo, vai encontrar seu irmão? Jamais! _ Caio parou de acertar a capa de Daniela com as bolas de energia e Daniela ficou por um momento estática. Por que ele não tirou energia vital dela? Ela não entendia. Caio disse, brandamente: _ Acho que você não entendeu muito bem a promessa que fez...


_ O quê?


_ Bem, você prometeu vencer todas as barreiras, não foi?


_ Exato! E, vou vencer!


_ Não... Você não cumpriu a promessa que fez ao seu irmão.


_ O quê?


_ Daniela, você prometeu vencer todas as barreiras, mas, não venceu a primeira barreira que encontrou: a ausência do seu irmão.


_ O quê?


_ É isso mesmo! Agora eu entendo! Diante da ausência do seu irmão, em vez de você erguer a cabeça e seguir em frente, você criou uma capa e se escondeu do mundo! Isso é ridículo! Se eu fosse seu irmão e a encontrasse nesse estado, sabe o que eu faria? Eu lhe aplicaria o maior sermão do mundo!


_ Mas, você não é meu irmão! E eu não preciso lhe ouvir! E nem vou! _ Daniela voltou a lançar aquelas bolas de energia contra Caio. Ela tentava lançá-las com a maior velocidade possível, contudo, Caio se desviava facilmente. Daniela aumentava o mais que podia a densidade das bolas e a velocidade delas. Ela disse, com ódio na voz: _ Eu não preciso ouvir suas idiotices! E nem vou! Vou acabar com você! ... Eu te odeio! _ O ódio que Daniela sentia era impressionante! Ela lançava aqueles ataques que fariam qualquer outro lutador ter medo e dizia: _ Eu te odeio! Eu te odeio! Vou acabar com você!


Caio se desviava facilmente de tudo. Ele simplesmente sorria. Após alguns minutos, Caio irritou-se com aquilo tudo e gritou:


_ Já chega!


Em seguida, ele lançou uma bola de energia que atingiu Daniela em cheio. A energia vital de Daniela ficou em 85% e ela foi ao chão. Daniela não compreendia. Caio a atingia quando e como queria. Por quê? Ele era capaz de se desviar dos ataques dela e ignorava a capa em volta do corpo dela, que a deveria proteger! Por quê? Daniela pensava:


_ “Como isso é possível? Por que ele simplesmente passa por cima da capa protetora que tenho em volta do corpo? Eu não entendo!”


Daniela ficou ali, no chão. O narrador narrava, maravilhado:


_ Incrível! Esta é uma luta de verdade! Após Daniela ter lançado várias bolas de energia incríveis, Caio provou mais uma vez que ele é mais veloz! Agora Daniela está novamente no chão e o juiz vai abrir a contagem!


O juiz abriu a contagem:


_ Um... Dois... Três... Quatro...


Caio se aproximou de Daniela e disse, abaixando-se:


_ Está ganhando tempo? É inútil! Você não vai me vencer, enquanto não tirar a sua capa. Enquanto você se esconder, jamais me vencerá! Mesmo que você use seus ataques especiais, mesmo que você use todas as suas forças, enquanto você tiver essa capa ridícula e inútil em volta de seu corpo, não me vencerá. Sei que você está ganhando tempo, mas, afirmo: é inútil!


_ Cinco... Seis... Sete... Oito... Nove... E...


Daniela levantou-se. Ela estava indignada!


_ Por acaso você lê pensamentos? _ Ela questionou, irritada.


_ Não. Eu só sei o que você está fazendo, porque você está sendo muito previsível.


_ Previsível?


_ Exatamente! Seu ódio leva você a fazer o óbvio.


_ Por que você é capaz de ignorar minha capa? Por que você parece adivinhar o que pretendo fazer? Eu não entendo!


_ Sua capa tem uma falha. Posso contar pra você, porque você não vai poder fazer nada mesmo. Bem, é fácil passar por ela, porque eu sei como. É simples: eu mando duas bolas de energia, uma dentro da outra. A bola externa, ao alcançar sua capa, fica em forma de um alicate que, ao abrir, abre um buraco em sua capa, por onde a segunda bola passa e atinge você. Não é difícil.


_ Mas... Mas... Mas...


_ Você deve estar se perguntando por que nenhum outro lutador percebeu, não é? Bem, isso eu não sei.


Daniela pensou:


_ “Como ele pode conhecer cada pensamento meu, cada ponto fraco? Eu nunca fiquei assim!”


Caio disse:


_ Percebe agora? Sua capa é inútil contra mim! É melhor que você a tire rápido.


_ Pra quê? Pra ficar mais fácil?


_ Acredite, não ficará mais fácil. Se você tirar sua capa, sua velocidade ficará tão grande quanto a minha. Não será nada fácil para mim atingi-la.


_ É mentira! Você quer apenas me enganar!


Daniela lançou mais bolas densas de energia. Caio limitou-se a falar:


_ Bem, você é quem sabe. Mas, por causa de sua teimosia, perderá mais cinco por cento de sua energia vital!


Caio lançou um novo ataque e a energia vital de Daniela ficou em 80%. Novamente, Daniela foi ao chão. Ela não acreditava. Será que Caio tinha razão? Será que ela deveria mesmo retirar a capa que a protegia? O narrador narrava:


_ Incrível! Daniela voltou a atacar, mas, sem sucesso. Olhem! Olhem! Caio novamente atacou e Daniela está no chão! A energia vital dela está agora em oitenta por cento! Caio é mesmo excelente!


Daniela levantou-se. Caio, então, perguntou:


_ Diga-me, Daniela, você acha mesmo que, caso seu irmão a encontre hoje, agora, desse jeito, ele a reconheceria?


Alguns segundos se passaram. Daniela não respondeu, ela nem sabia o que responder. Caio insistiu:


_ Bem, pelo pouco que você contou, você era uma garotinha doce, meiga e, seu irmão a protegia. Bem, hoje você é ríspida, seca, fechada e triste. Você acha mesmo que seu irmão a reconheceria, se te encontrasse?


Daniela ficou estática. Ela não sabia o que dizer. Será que o irmão dela a reconheceria? Ele a reconheceria? Reconheceria? Reconheceria? Ela não sabia, não mesmo. Então, após alguns segundos e muito raciocínio, ela se saiu com uma pergunta:


_ Bem, parece que você também perdeu uma irmã, não é? Então... Se ela o encontrasse, ela o reconheceria?


_ Se ela quisesse me reconhecer e fosse a mesma pessoa de antes, sim, reconheceria. Eu cresci, é verdade, mas minha energia continua a mesma: pacífica, mas determinada. Eu continuo o mesmo: pacífico, mas determinado. Então, se ela fosse a mesma pessoa que era quando fomos separados, sim, ela me reconheceria.


Daniela não sabia a razão, mas sentiu algo estranho. A energia de Caio realmente era pacífica, mas, na hora em que ele atacava, ela sentia uma determinação incrível! A energia de Caio lhe parecia familiar, bem familiar! Por quê? O coração dela parecia entender, mas a mente não. Ela não conseguia saber por que sentia aquilo, aquela vontade de ficar ali, parada, aquela vontade de que tudo aquilo acabasse! Por quê? Se Daniela seguisse seu coração, seus sentimentos, ela desistiria ali mesmo, naquela hora, daquela luta sem sentido, mas, ela não podia! Ela havia prometido vencer todas as barreiras e... Seria verdade que ela não cumpriu? Caio teria razão? Por que todos aqueles sentimentos? Por que a energia de Caio lhe parecia tão familiar? Droga! Daniela perdeu a memória aos três anos, por causa de um golpe na cabeça de Zenildo! Maldito Zenildo! Ele havia tirado dela o irmão e muitas lembranças! Ela se lembrava de alguns momentos do passado, porque recuperou parte da memória com o passar do tempo, mas ela não conseguia se lembrar do nome de seu irmão! Droga! Se ela tivesse deixado Caio matar Zenildo, tudo teria terminado ali, naquele momento! Tudo teria terminado bem! Por que ela teve que impedir? Aquela luta não tinha sentido...!!!... Ah, não! Daniela tinha que vencer! Ela precisava vencer!


Por alguns momentos, Caio percebeu uma leve mudança na energia interna de Daniela. Foi quando ele entendeu: por trás daquela capa, certamente, Daniela escondia suas fragilidades. Ela tinha uma energia interna tão pacífica quanto a dele, mas, escondia a todo o custo isso. Ah, ele a faria perder aquela capa de ódio, faria sim, ou não se chamaria mais Caio! Ele falou:


_ Daniela, agora eu sei o que você esconde por trás dessa capa! Você é uma menina doce e frágil, mas, por algum motivo, esconde isso das pessoas. Muito bem: eu vou fazer com que você mostre quem você é de verdade, para todo mundo e para você mesma! Eu vou tirar a sua capa, vou fazer com que você a perca!


Daniela não sabia o que dizer. Parecia que Caio não a atacava se ela não o atacasse. Ela não entendia o porquê disso. Então, ela somente disse:


_ Vamos ver!


Em seguida, Daniela voltou a lançar aquelas bolas de energia. Todavia, ela não conseguia colocar mais tanto ódio nas bolas de energia. Ela não sabia o motivo. Caio falou:


_ Vou fazer com que você desista dessa capa. Agora vou retirar dez por cento de sua energia vital. Prepare-se!


Em seguida, Caio lançou novo ataque. Daniela foi a chão e a energia vital dela ficou em 70%. O narrador narrava:


_ Incrível! Daniela não desiste das bolas de energia, mas... Ah, vejam: as bolas estão mais fracas! Será o fim dela? E olhem lá! Caio lançou novo ataque e esse foi mais forte! Caio está brincando com ela, minha gente! Daniela está no chão de novo!


Daniela pensou:


_ “Se continuar assim, vou perder. Muito bem: vou lutar com tudo agora!”


Daniela levantou-se e disse:


_ Muito bem, Caio: agora já chega! Eu vou mostrá-lo do que sou capaz!


_ Há muito eu espero por isso, menina _ Caio disse.


Daniela se concentrou. Ela estendeu as duas mãos para frente e as direcionou na direção de Caio. Em seguida, ela preparou seu ataque especial e lançou:


_ [Energel!]


Nesse momento, um enorme vento gelado atingiu Caio. Era um vento muito gelado! A temperatura da arena caiu para -30 Graus Célcios. Caio foi duramente atingido. A energia vital dele caiu para 80%. O narrador espantou-se:


_ Nossa! Incrível! Daniela lançou um ataque fenomenal! A temperatura caiu demais aqui! Quem não trouxe blusa... Caio foi atingido, mas, continua de pé!


Caio deu uma gargalhada. Daniela não entendeu nada. Ela questionou:


_ Será que o frio o enlouqueceu?


_ Não, eu adoro frio. Mas... É engraçado... Uma capa de ódio... Gelo... Combina mesmo com você.


_ O quê? Ah, agora já basta! Muito bem: eu vou acabar com você! Esse será o seu fim!


_ É mesmo? E... Vai fazer o quê? Vai lançar mais ar frio em mim?


_ Você nunca sentiu tanto frio, não é? Vou congelá-lo para sempre! Transformarei você numa estátua de gelo! Prepare-se!


_ Vamos lá, garota, se tudo o que você tem é ódio e frieza, então, venha!


Daniela agora ergueu as mãos para o alto. Ela se concentrou e preparou um novo ataque. Em seguida, lançou-o contra Caio:


_ [Máx-Energel!]


Em seguida, ela baixou as mãos. Nesse momento, foi como se todo o frio do mundo caísse em cima de Caio. Não só caiu uma camada de ar frio, como também uma camada de gelo. Incrível! A energia vital de Caio ficou em 40% e ele ficou imóvel! O narrador contou o fato:


_ Incrível! Olhem lá! Eu acho que Caio foi congelado! Parece que acabou!


Será esse o fim do combate? Será que Caio foi derrotado? Pode o ódio vencer o amor?


(continua)