BRASIL,
CORAÇÃO DO MUNDO
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Alberto
Carmo
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Diante da teimosia gatuna e sovina dos povos mercantilistas, agiu a natureza por conta própria, isolando-os a todos em seus guetos malcheirosos e devastados, onde lhes restou apenas a poeira do que antes fora seara fértil, separados dos continentes por intransponível barreira de ouro que a terra vomitou-lhes sobre as fronteiras. Povos que chegaram ao novo século com mentes cristalizadas na Idade Média, ávidos de poder e ajuntamento de riqueza. Gente preconceituosa, que mal se importava com a fome dos que lhes fartavam de rico alimento. Seres amaldiçoados em todo o Universo, que forjaram leis mesquinhas que lhes protegessem o interesse de feras a expelir egoísmo e avareza no hálito fétido. Chegado o momento de seu castigo e expurgo do planeta, transformaram-se, qual Midas moderno, em meros robôs mortos-vivos. Das terras onde habitaram, nada restou a esse povo imerso na decadência, a não ser corpos geneticamente degradados, a se alimentar de gelatinas de esmeraldas, rubis e safiras; nacos de platina polvilhados com ouro em pó. Mataram a sede insidiosa com o drinque negro dos fósseis, ornados com fatias redondas de âmbar e pérolas. Deliciaram-se com manjares de prata enfeitados com diamantes gelados. Processaram sua digestão asquerosa entre urros de volúpia; procriaram-se rastejantes em leitos de lama pustulenta, no solo que pavimentaram com desmedida ganância. Puniu-os a natureza com o que mais queriam possuir, deu-lhes o que rogavam nas profecias de seu deus orgulhoso, entre espasmos de soberba e fé, em rituais plenos de ignorância. Cuspiu-lhes a natureza todos os tesouros que viveram a acumular, mantendo-os longe dos novos povos até o momento da expulsão definitiva ao planeta selvagem que lhes abrigaria os corações de chumbo e os olhos de cobiça. No degredo cósmico que lhes aguarda em breve, vão criar outro imaginário Éden, nascido na lembrança da antiga casa. E, tal como antes, tirar de novas pedras as leis que lhes domem os baixos instintos, até que um dia possam regressar ao paraíso perdido, agora brilhante em sua nova órbita. Deles só restará a lembrança piedosa do povo simples e sábio, que voa pelo Universo a estampar na vibrante aura planetária a nova irmandade serena, que reparte solidária o trabalho e o alimento, a emoção e o conhecimento, no caminho incontrolável rumo ao infinito. Novas tribos de jovens brilhantes e meigos, de velhos generosos e amados. Onde cada mão acena gestos de carinho, e cada braço tinge os músculos com a força que lhe seja própria. Onde a recompensa maior é o sabor de conhecer os meandros de Deus, e a ciência não mais que a tradução da língua divina. Onde o filtro da sabedoria e da experiência deixou passar da tecnologia apenas as bênçãos. Mundo novo de águas límpidas, da terra fértil e das máquinas suaves e calmas. Onde cada colheita é festejada em danças de um povo nascido da árdua lida de seus antepassados de boa vontade. Onde as lágrimas brotam somente na ternura de uma flor que desabrocha, e cada fruto da terra é sorvido em preces de iniciados. Onde os casais trazem olhares gêmeos e amores infinitos. E juntos, ungem seus filhos com juras de eterna partilha. O planeta que, enfim, ouviu o aviso do emissário das boas novas: - Brasil, coração do mundo, pátria do Evangelho! - Maktub! |