VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA (Adaptação de Manuel Bandeira e eu)
Adão Jorge dos Santos
 
 

VOU- ME EMBORA PRÁ PASÁRGADA, vou me embora porque LÁ SOU AMIGO DO REI, aqui não tenho mais amigos, LÁ TENHO A MULHER QUE EU QUERO NA CAMA QUE ESCOLHEREI

AQUI EU NÃO SOU FELIZ, e certamente não serei, LÁ A EXISTÊNCIA É UMA AVENTURA, aqui é uma desventura com tanta violência e a falta de segurança, DE TAL MODO INCONSEQÜENTE, QUE JOANA A LOUCA DE ESPANHA RAINHA E FALSA DEMENTE VEM A SER CONTRAPARENTE DA NORA QUE NUNCA TIVE e que talvez nunca venha a ter.

E COMO FAREI GINÁSTICA, aqui fujo das balas perdidas, ANDAREI DE BICICLETA, sem ter medo de que alguém a roube, MONTAREI EM BURRO BRABO, apenas por diversão, não por necessidade.

SUBIREI NO PAU DE SEBO, talvez seja a única forma de se subir na vida honestamente neste país, TOMAREI BANHOS DE MAR sem ter medo dos arrastões que são uma atividade constante de quem não vê a praia como área de lazer, mas como um banco 24 horas, E QUANDO ESTIVER CANSADO, de fugir dos ladrões que infestam a sociedade, DEITO NA BEIRA DO RIO, não o poluído daqui, MANDO CHAMAR A MÃE D ÁGUA PRÁ ME CONTAR AS HISTÓRIAS, QUE NOu TEMPO DE EU MENINO, ROSA VINHA ME CONTAR.

EM PASÁRGADA TEM TUDO o que se deseja de um país grande como o Brasil, É OUTRA CIVILIZAÇÃO, uma outra gestão, TEM UM PROCESSO SEGURO DE IMPEDIR A CONCEPÇÃO, não há crianças pedindo esmola nas ruas, Tem telefone automático onde as taxas e as tarifas são baixíssimas, TEM ALCALÓIDE Á VONTADE, que é de graça e as pessoas não ficam dependentes dela, e não precisam matar ou roubar para manter seu vício.

TEM PROSTITUDAS BONITAS PARA A GENTE NAMORAR, casar e se amarrar.

E QUANDO EU ESTIVER MAIS TRISTE do que estou agora, MAS TRISTE DE NÃO TER JEITO e QUANDO DE NOITE ME DER , sem eu saber porque, VONTADE DE ME MATAR, ao ver que o Brasil esta tão assim sem jeito, que se eu realmente pudesse, com certeza absoluta, iria embora pra pasárgada.

VOU -ME EMBORA PRÁ PASÁRGADA