CRÔNICA RESIGNADA DE UM ALLEGRO MISANTROPO XXV
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Sérgio Galli
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Verão
de 2007
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(Ao som de Nefertiti, de Andrew Hill) Hunos. Godos.Visigodos. Ostrogodos. Suevos. Celtas. Vikings. Escandinavos. Germanos. A invasão dos bárbaros pôs a pá de cal no império romano que já estava num longo processo de declínio. Mas este talvez tenha sido o episódio da história da humanidade mais lembrado para o uso do termo barbárie. È injusto. Afinal, não podemos nos esquecer, já fomos caçadores-coletores. Com a agricultura, passamos a um outro patamar. E vieram as primeiras civilizações. E estas, com toda sua organização, técnicas, tecnologias, já cometiam suas barbaridades. O mito do progresso, surgido a partir da renascença, ganha impulso com o iluminismo e com o positivismo. Ordem e progresso. E finalmente, com a primeira revolução industrial, atinge o ápice. O fetichismo da mercadoria, um dos pilares do capitalismo, inclui também a tecnologia, a técnica, como panacéias para tudo. Não por acaso as maiores carnificinas, barbáries foram cometidas no século XX e com tecnologia de ponta: as duas grandes guerras com suas matanças e genocídios utilizando o que havia de mais moderno: gases, bombas, bombas químicas, bombas incendiárias, e, claro, a câmara de gás, os campos concentração, o extermínio em massa. E o trágico final foi a explosão da bomba atômica em Hiroshima e Nagasaki. O mito do progresso em sua lógica mecanicista e unilateral ignora o outro lado, os efeitos negativos, ou os efeitos coletarias. Enfim, não que enxergar as contradições os paradoxos. Tecnologia não tem apenas o lado bom. Progresso não é uma linha reta. Evolução não é ascensão. Só
vou dar um exemplo: o automóvel. Que no início, como o
próprio nome diz, um veículo de passeio. Seus sinônimos:
desgraça e destruição. Poluição.
As cidades estão reféns do automóvel, e as pessoas
escravas. Assim caminha a barbárie civilizatória. Ou a civilização bárbara. Sugestão de leitura: Colapso, Jared Diamond, Editora Record. E também, Reflexões sobre o exílio e outros ensaios, de Edward Said, Companhia das Letras. |