ELA
Osvaldo Pastorelli
 
 

bárbaros, somos bárbaros, o que não deixa de ser um vicio que nos faz escravos, disse ele

orgulhoso de sua atitude via-se refletido no pequeno espelho fomentando a ansiedade sexual

excitado não podia fazer nada a não ser aceitar

o intumescimento incontrolável deixava-o quase furioso

absorvia a água massageando o corpo num beber o venoso sentir quente

desde o primeiro momento foi espetado por pequenas descargas elétricas de emoção efetivando todo estimulante processo de saciar o primata que havia nele

não lutava

deixando-se levar como perdedor que se entrega ao sabor da correnteza, se entregou ao sabor dos toques do prazer

primeiramente atingido pela surpresa custou em aceitar a evolução libidinosa do ato em si

hoje, passado os instantes de surpresa, aceitava vê-la à suas costas

quando o rosto dela surgia refletido no espelho por cima do seu ombro, exultava-se numa imoralidade sexual

sempre ficava atento mas nunca conseguia descobrir como ela surgia, o momento certo, quando percebia, ela já estava atrás
dele excitando-o

o poder masculino de percepção bloqueava quase todos os segundos da descoberta

notava a presença dela ao sentir a quente e sensual respiração ao ser mordido levemente na nuca

instantaneamente um formigamento dominava-o a ponto da pele ficar arrepiada

não se mexa, continue se barbeando, não olhe para trás, dizia ela num tom de voz taxativo

tímido se postava como boneco entregue à luxúria faminta dela

ao contato da língua exalando aroma de pêssego aveludado parecia pequena alfinetada orgasticamente

sabendo tirar prazer lambendo, chupando ou mordendo todos os espaços das costas lisas e torneadas, parecia sentir um canto suave e brando

ao toque dos lábios os músculos se retesavam numa tentativa de guardar em cada célula o registro prazeroso do momento

no calor meio sádico, dominante e possessiva, pressionava o corpo dele contra o azulejo frio do banheiro

na frieza indolor da parede sentiu a pressão que ela fazia e notou a intenção da amante

sem esperar uma ordem, lentamente inclinou o corpo para frente e encostou as mãos no chão se oferecendo à ela

 
 
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