QUATRO
ENTREVISTAS
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Eduardo
Prearo
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Ian estava inquieto, sentia-se um lixo, mais propriamente um inútil. Era sempre o espelho de alguém. Resolveu ir, naquela noite de janeiro, à exposição Fotografias-mortas e algumas exceções. Levou seu pequeno gravador, pois estava ansioso para fazer entrevistas. A primeira delas foi com Alex Flemming, o artista que estava expondo as fotografias. Ian - Queria lhe fazer algumas perguntas. Alex Flemming - Tudo bem. Ian - Há uma forte presença oriental em suas obras. Alex Flemming - Sim, isso tem a ver com minhas viagens e com o fato de eu viver entre dois mundos. Ian - Os peixes das fotos tem algo a ver com esoterismo? Alex Flemming - Não esoterismo, mas com um símbolo muito importante que é o símbolo inicial do cristianismo. Ian - Os peixes não representam o conhecimento? Alex Flemming - Eu acho que não. Para mim, ali está um símbolo extremamente religioso do cristianismo. Os peixes são elos de tânatos, a vida e a morte. Na medida em que você come, você come para sobreviver e você esta morrendo imediatamente. Ian - E quanto a essas fotos de homens semi-nus e musculosos? Alex Flemming - Todos os corpos das fotos vem de uma única pessoa. Eu quis fazer uma homenagem à humanidade e portanto ao corpo humano; o corpo humano faz três metáforas civilizatórias, sendo uma delas a arquitetura. A segunda entrevista foi com Calixto. Ian - O que o senhor achou da exposição? Calixto - Meu nome é Calixto e achei ela bonita, sendo que a montagem está muito boa. Ian - E o que lhe transmitiram as fotos? Calixto - O problema aí é que sou fotógrafo há mais de cinqüenta anos e sou amigo do artista. É um trabalho novo dele. Acho Alex muito versátil. Na terceira entrevista, Ian já estava bêbado... Ian - Oi, qual o seu nome? Mister Shake - Meu nome é Mister Shake. Ian - Qual a cultura que mais o atrai? Mister Shake - Eu sou helenista, eu sou helenista por excelência. Ian - E o que o senhor acha dos bárbaros, por exemplo? Mister Shake - Os bárbors eram invejosos. Eles não tinham cultura e não podiam entender por que uma pessoa culta e educada tinha tanta beleza e graça. Eles queriam destruir aquilo que eles não entendiam. Ao mesmo tempo eles queriam, como nossos antropófagos, comer os cultos para ver se conseguiam assimilar antropofagicamente a cultura daquele povo evoluído. Depois, Ian fez a quarta e última entrevista da noite. Ian - Oi, qual é o seu nome? Illana - Illana. Ian - Qual é a cultura que mais te atrai? Illana - A cultura milenar e também adoro tudo o que vem do Egito. Ian - E os Bárbaros? Illana - Eram invejosos e o nome já diz, bárbaros. Era bárbaro de barbárie. Os egípcios e os gregos foram o berço da humanidade toda. Os romanos já eram copiadores e um tanto ou quanto gladiadores. Ian - E os judeus. Illana - Eu sou católica. Ian, após essa derradeira entrevista, foi embora do Masp e ficou pensando sobre qual seria sua missão no mundo. Sentiu-se selvagem, de súbito. Claudicante, foi seguindo, supersolitário, enojado de si mesmo, pelo deserto metropolitano que tem um ar sempre crítico. |
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