ESTRANGEIRO
Andrea J. Santos
 
 

Mundo azul; sonhos engenhosos ou ilusões patéticas? Sei que sou estrangeira nesse mundo mudo, onde as melancolias são inevitáveis e concretas.

Atravessando mares navego sobre os oceanos, e exploro o infinito a ermos sobre os efeitos de sua sedução. Encantado mundo, onde a solidão é sombra sobre os reflexos do sol, onde as reflexões são gotas de orvalho na virgem noite poente, riscos de luzes na aurora envolvente sobre o amanhecer.

Mundo autárquico. Sou escravizada pelas suas dominações, com os braços entre laços trêfego em seus caminhos inusitados e destinados pela razão. Paz e guerra, alegria e sofreguidão, sigo em meio a risos e lágrimas. Antítese que nunca cessarão.

Sobre o azul do mar vou viajar e ganhar asas no soprar audaz do vento, ficando sujeita as tramas do condutor dos meus passos de menina sobre flores azuis, sorrindo e cantando sem noção do tempo.

No âmago da alma, sinto quente e instigante a saudade, esse mundo que me prende e sufoca o meu protesto de defesa, essa liberdade sagrada que banha de prata os raios da madrugada. Vai-se sobre as ondas e cativa os meus olhos a olhar para o infinito intocável.

Não professo a junção da minha vida ao sentimento que me doma, levando-me ao inverso das ordenanças louváveis pelo livre arbítrio que retifica o meu querer. Mas o meu sentir é domador.

Dentro de meu ser é um espólio, herança sagrada do tempo que nunca se revelou a mim, que apenas me predestinou a guarda-lo em minha passagem sobre a terra.

Esse mundo imenso que vive em nós, que diversifica o querer predominando em nossa alma a carência pela sua essência e sensações.

Vivo em um mundo chamado amor, o mundo que vive em mim... O inverso que permanece em meu modo de vida. Ambos estrangeiros, ambos indecifráveis.