A MESMA HORA...
Adriana Vieira Bastos
 
 

A mesma rua. O mesmo carro... Só ele não era mais o mesmo...

Caminhava na contramão. Sentia-se o próprio estrangeiro dentro do mundo que, um dia, imaginara ser o seu.

Mas não lhe causava estranheza esta sensação. Agradava-lhe o sabor desta inovação.

Que não lhe pedissem o destino.

Não sabia para onde ia. Mas sabia ser a hora de renovar. Experimentar as novas bifurcações que a vida estava lhe oferecendo.

Que também não lhe pedissem seus desejos mais secretos. Eram tão secretos que, de tão secretos, tornaram-se secretos até para ele.

Também, não precisava se preocupar, afinal, não desejava mais desejar...

Com o ar de quem não deve nada mais a ninguém, ligou a chave do carro, e não olhou para trás. Viu que estava na hora de simplesmente deixar fluir.

O resto?

O resto oferecia de presente a quem perdia tempo com desnecessárias elucubrações...