Em São Sebastião tinha um japonês dono de bar que se chama Jorge, um chinês que consertava tudo, mal fala português, um vereador e dezenas de outros que gostariam de ser. Tinha um diretor de escola que sabia tudo sobre absolutamente nada.

Tinha duas pensões, quartos de meia parede, banheiro coletivo. Havia uma, digamos Avenida São Sebastião, uma venda São Sebastião, uma quase Praça São Sebastião e quase o próprio, tinha Seu Sebastião fundador da vila.

Tinha uma zona, bordel modesto de tábua, longe, bem retirado da vila, teve até cata de assinaturas para expulsar as moças, às escondidas dos fiéis maridos é claro, para as bandas de Santa Albertina lá para os lados do estado de São Paulo, do outro lado do córrego. De certo lá podia. Felizmente para os homens e frustração da imensa elite feminina de 6 ou 7 senhoras, a lista não deu em nada.

São Sebastião era pacata com seus quase 350 moradores urbanos.

Nos domingos os moradores das roças e olarias se dirigiam à vila para compras e diversão. Diversão que se resumia aos 3 bares e a um cinema improvisado no fundo de um deles, máquina antiga, barulhenta, duas barras de carvão fazem a geringonça girar, – lançamentos de 10, 15 anos atrás, acidentalmente alguns clássicos alugados em alguma cidade grande apenas pelo título. Vi Casa Blanca, com toda certeza adquirido por engano. Fiquei só na sala, odiaram, não tinha tiro nem sangue, nem era colorido o maldito, um fracasso, seção única. Só minha, privilégio.

Num domingo uma bicicleta amanheceu na calçada, em frente ao bar do japonês. Na quinta-feira – o Jorginho, assim era chamado, no diminutivo, veio aflito conversar comigo, tirar opinião.

- Professor, já viu aquela bicicleta lá na porta de meu bar?

- Claro que sim, todos viram, virou assunto de conversa e aposta a semana inteira.

- Pois então sabe o que é, ela está lá há cinco dias, ando com medo que alguém a roube!

Ri baixinho.

Um dia um circo chegou à vila. Mambembe, pobre. Caminhões Ford, velhos, enferrujados, clandestinamente movidos a gás, gambiarra pura, contam que um explodiu perto da balsa do Porto Alencastro. Lembro sempre da pequena, magra e triste equilibrista. Em corda amarrada em dois cavaletes velhos a meio metro do chão, com sombrinha desbotada, sapatilha branca empoeirada pelo chão de seco julho, atravessava de lá pra cá. Nem um sorriso, nem uma expressão – silêncio e medo. Chorei escondido.

Milionário e José Rico lá se apresentaram, foi um frege, alvoroço total. Eles ficaram hospedados na Dona Mercês e fingiam não conversar um com o outro, inimigos mesmo. Cantar era trabalho, juntos podiam. Até no truco era um em cada dupla, funcionava o povo acreditava.

A equilibrista triste nunca vai sair de minhas lembranças.

Tínhamos dois cães, na verdade um; o outro, Tupã caçador de capivaras é que, por conveniência e fome tinha a nós. Nossa mesmo era Futrica, mestre em roubar ovo de galinha em todas as chácaras vizinhas, era jurada de morte.

Mas São Sebastião tem as luzes, mágicas luzes, misteriosas e lindas, e é delas que quero falar.