Há
no beiral do computador
Estrelas de madeira
Pintadas em azul, amarelo e verde
Penduradas por um fio dourado.
O
vento balança, balança elas
Essa é a forma que o escritor achou
Para trazer o céu para dentro de casa
Limpinho, colorido, harmonioso.
Na
frente da mesa há uma cadeira
Que faz nhec-nhec quando alguém se senta nela
E uma almofada com capa de crochet
Dorme no colo dela.
E
atrás, há um painel, diremos um céu
Com
fotos de ridentes, olhos felizes
Propagandas
de café e figuras de geladeiras
Nas
paredes, quadros pendurados
Poemas
e contos emoldurados
Uma
constelação linda, inusitada.
Ao
lado desse céu, perto do beiral de estrelas
Há
um aparador lustroso
Que
carrega uma imensidão de apetrechos
Fotos
de uma sempre mesma mulher
Um
batom esquecido, um frasco de perfume
Uma
bolsinha dessas femininas para guardar moedinhas
E
uma carta que só o escritor leu.
Aos
pés do escritor, o gato dorme
Bocejando vez ou outra
Espichando-se algures.
O
escritor não escreve mais
Olha,
emudecido, o telefone que não toca
Enquanto
a xícara com chá de enfado
Esfria
sobre o piano calado.