Mulheres,
a natureza foi violenta com vocês. Não sou um feminista,
muito pelo contrário. Mas também não sou um machista.
Antes fosse e optaria pelo preto ou branco; nada do árduo trabalho
em selecionar cinzas claros, no exercício do bom-senso diário.
O fato é que reconheço em vocês uma essência
suave, plena de sutilezas que as matizam, tornando-as coloridas e tenazes.
Suportam ciclos com edemas, enxaquecas e, ainda assim, lembram-se de
molhar o vaso de bromélias ou comprar a nova ração
do gato (sem cálcio por conta dos cálculos renais do bichano).
Oras, diríamos nós, acometidos de nossa primeira TPM,
que as plantas e os animais ardam no mais abissal fosso do inferno!
Atacado pela vilania da progesterona, mesmo os metrossexuais mais sensíveis
ficariam em casa gemendo miúdo, cobertos de bolsas de água-quente
ou embebidos em vodca iugoslava.
A Natureza criou Adão. Cá está sua maior violência.
O macho (erectus, neandertalis ou atualmente boçalis)
é o senhor da ternura negada, dos telefonemas não realizados,
das broncas frente às faturas de cartão de crédito
(ainda que pagas exclusivamente por vocês) e das eventuais raladas
de pára-choque (ainda que no carro comprado exclusivamente por
vocês). Mas, se permitem a digressão: somos inocentes!
Somos portadores de um único gene X, incapaz de funcionar se
o Y está atuante. Homens se tornam surdos quando lêem jornal,
ou mudos quando acompanham a final do Campeonato Brasileiro... Reclamamos
arrogantes da releitura experimental de monólogos de Kafka, mas
nos emproamos cultíssimos diante do acasalamento dos Dragões
de Komodo (depois do zapping com destino certo: o Discovery Channel).
Mas a culpa não é nossa... é dela, da Natureza.
Foi a Natureza que nos fez assim, e que agora nos coloca diante de um
espelho, vendo o quanto nossos antepassados foram egocêntricos.
Foi ela, a Natureza, que lhes deu a dor de parir. Mas não guardem
rancor por isso... Jamais. Junto veio o privilégio de alimentar
com o próprio sangue e todo-o-amor-do-mundo quem por perto suspirar,
necessitado de carinho.
Mães. Tradicionais, biológicas, de aluguel ou por uma
noite. A Natureza lhes deu a força para ouvir lamúrias,
desalentos, numa empatia destruidora não fosse a coesão
de seus genes XX, a dialogar um com o outro e optar por uma solução-lágrima,
evanescendo os desencontros da vida.
A culpa foi dela, da Natureza. Ela é que foi violenta. Mas nós,
homens, devemos agradecer por isso. Não suportaríamos
tantas cores, e vocês prosseguem, combinando todas. Trabalham,
perseveram, amam e nos mostram toda a gama de sentimentos do mundo,
num caleidoscópio que assusta, mas nos ensina.
Eu agradeço. Já sei distinguir o claro do escuro. E evito,
tanto quanto posso, me valer do cinza-chumbo.
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