FOI ELA, A NATUREZA
Leonardo de Moraes
 
 

Mulheres, a natureza foi violenta com vocês. Não sou um feminista, muito pelo contrário. Mas também não sou um machista. Antes fosse e optaria pelo preto ou branco; nada do árduo trabalho em selecionar cinzas claros, no exercício do bom-senso diário.

O fato é que reconheço em vocês uma essência suave, plena de sutilezas que as matizam, tornando-as coloridas e tenazes. Suportam ciclos com edemas, enxaquecas e, ainda assim, lembram-se de molhar o vaso de bromélias ou comprar a nova ração do gato (sem cálcio por conta dos cálculos renais do bichano).

Oras, diríamos nós, acometidos de nossa primeira TPM, que as plantas e os animais ardam no mais abissal fosso do inferno! Atacado pela vilania da progesterona, mesmo os metrossexuais mais sensíveis ficariam em casa gemendo miúdo, cobertos de bolsas de água-quente ou embebidos em vodca iugoslava.

A Natureza criou Adão. Cá está sua maior violência. O “macho” (erectus, neandertalis ou atualmente boçalis) é o senhor da ternura negada, dos telefonemas não realizados, das broncas frente às faturas de cartão de crédito (ainda que pagas exclusivamente por vocês) e das eventuais raladas de pára-choque (ainda que no carro comprado exclusivamente por vocês). Mas, se permitem a digressão: somos inocentes!

Somos portadores de um único gene X, incapaz de funcionar se o Y está atuante. Homens se tornam surdos quando lêem jornal, ou mudos quando acompanham a final do Campeonato Brasileiro... Reclamamos arrogantes da releitura experimental de monólogos de Kafka, mas nos emproamos cultíssimos diante do acasalamento dos Dragões de Komodo (depois do zapping com destino certo: o Discovery Channel). Mas a culpa não é nossa... é dela, da Natureza. Foi a Natureza que nos fez assim, e que agora nos coloca diante de um espelho, vendo o quanto nossos antepassados foram egocêntricos.

Foi ela, a Natureza, que lhes deu a dor de parir. Mas não guardem rancor por isso... Jamais. Junto veio o privilégio de alimentar com o próprio sangue e todo-o-amor-do-mundo quem por perto suspirar, necessitado de carinho.

Mães. Tradicionais, biológicas, de aluguel ou por uma noite. A Natureza lhes deu a força para ouvir lamúrias, desalentos, numa empatia destruidora não fosse a coesão de seus genes XX, a dialogar um com o outro e optar por uma solução-lágrima, evanescendo os desencontros da vida.

A culpa foi dela, da Natureza. Ela é que foi violenta. Mas nós, homens, devemos agradecer por isso. Não suportaríamos tantas cores, e vocês prosseguem, combinando todas. Trabalham, perseveram, amam e nos mostram toda a gama de sentimentos do mundo, num caleidoscópio que assusta, mas nos ensina.

Eu agradeço. Já sei distinguir o claro do escuro. E evito, tanto quanto posso, me valer do cinza-chumbo.