DANÇA NA GRAMA
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Ana Terra
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Frio nos pés descalços. Grama prateada na madrugada de Lua Cheia. Úmida pelas gotas de orvalho. Dois seres preparam-se para uma dança inventada. União de fantasias. Andam para trás até encontrarem a distância necessária para a chegada do encanto. Olhos fixos nos olhos. Não há música. O ritmo determinado pelas estrelas. A aproximação é lenta. Passos não ensaiados num compasso perfeito. Mãos se encontram e se acariciam. Um delicado roçar de peles. O volume da música é aumentado. Nada mais se ouve. Nem o barulho do movimento dos corpos. Giram. Rodam. Reviram. A sensualidade, auxiliada pelo vento, acaricia os cabelos revoltos. Perfume no ar. Cheiro de sexo exalando por todos os poros. Suor. A dança continua. Movimentos não mais definidos aumentam freneticamente. Não há mais controle. Não há mais música. Não há mais chão. As gotas de orvalho evaporam dando lugar a um tapete quente e macio. Hálito quente na nuca. Mãos afoitas pelos corpos. Cabelos entrelaçados. Um só olhar onde estrelas refletem. Danço com um humano ou com o Universo? Não sei. Insanidade. Entorpecimento. Exaustão. Corpos caem na grama. O orvalho frio traz a realidade. A euforia se faz presente. Risos e gargalhadas. Crianças rolando no chão. Sem medo do ridículo. Pernas para cima. Braços acenando para a Lua. Um longo abraço. O sol rompe no horizonte iluminando as criaturas. Sento no chão e vejo em seu olhar um estranho brilho. Sua mente rompe séculos e seu corpo na antiga dança do sol. Uma reverência. Um ritual. Seu corpo dourado. Seus movimentos me trazem os primeiros raios de sol na pele. As minúsculas gotas de orvalho desaparecem com o calor. O céu vai se cobrindo de azul. O dia se mostra. A realidade se impõe. Hora da fuga. Peço pelo sono que chega mansamente. Acolho sua cabeça iluminada em meus ombros. Os sonhos são coloridos. Uma só cena. É impossível determinar de qual mente nasceram. A calmaria nos isola. |