ANATOMIA COMPARADA AO SONHO PERDIDO
Zeca São Bernardo
 
 

(pequena homenagem ao mestre Carlos Zéfiro do escritor que nunca aprendeu a desenhar)

Quanto mais André esforçava-se para entender as notações de álgebra mais se perdia no mundo lógico dos números! De fato, teria sido um grande físico se não fosse a matemática ou seu eterno problema com números, diria a si mesmo e á todos num futuro próximo que nem se quer imaginava ainda...

Como outros colegas de classe diriam que poderiam ter sido grandes médicos! Não fosse a aversão ao sangue ou bons escritores não fossem os malditos verbos relativos e o bem dito mercado tão pequeno no Brasil.

Voltemos a André, que é o que nos interessa nesta crônica, por trás das lentes grossas de seus óculos reside um arguto e inquieto observador. Que se delicia altas horas da noite em seu quarto desenhando e redesenhando as curvas e formas que durante o dia apreciava.

Lá estavam também obras de grandes mestres, a fazer-lhe companhia pois é bom que se diga que mesmo um auto ditada conta com a admiração á alguém e isso diminui a distancia entre o sonho e a realidade.Trazendo-lhe ao convívio de Manara, Grepax e um certo Carlos Zéfiro tupiniquim esquecido, de traço firme, claro, perpetuador da beleza do preto e branco em sua arte. Herança única, certa e escondida num baú velho que o pai escondeu no porão e que ele arrombou. Claro que o pai até pensava em entregar-lhe os catecismos( eram assim chamados os quadrinhos pornôs do velho Zéfiro, por serem consumidos em sua maioria por adolescentes e circularem de mão em mão- muitas já cabeludas- as escondidas nos catecismos propriamente ditos, oportunidade impar da época de reunir púberes e lá vai a vida admoestando em seu território pelas suas mãos) só não sabia como faze-lo.

Curvas vêm, sobrancelhas vão, tornozelos torneam-se quase que sós na ponta firme do lápis e lá surge a dúvida sobre qual tipo de olhos casam melhor com o rosto da bela dama e a certeza que fica é que são os belos olhos verdes da professora de matemática, outra vez.

Ficaram eternizados não só em suas lembranças mas com seus traços e ela já mais o saberá. É, certo estava Paulo Freire quando surpreendeu o meio acadêmico com seu conceito de que cada um aprende o que quer.