VELHAS
LIÇÕES
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Luísa
Ataíde
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O
teu corpo é luz, sedução Coisas há que me iluminam: Uma tela em branco, um teatro vazio,um texto por escrever. Mas é necessário que eles se antecipem. Com o pincel vou tirando a película que cobre a tela branca e a imagem aparece. Ana dos anjos senta-se ao meu lado. Se chegar o desejo, diz ela, largue as roupas na tina, as frutas na sementeira, deixe o caldeirão secar ao fogo e escreva . Se te coçarem os dedos, misture tinta nas pontas deles e deslize. Há um movimento espiritual. Não há como defini-lo,só fazendo. O ritmo da ponta do pincel ou dos dedos é curto, o coração acelera. Esses momentos , só eu os reconheço. Por que o fascínio pela água quando pinto ou escrevo? No meio do oceano há um porto. No meio do nada, só água... água... e água a milhas e milhas delas. Sento no pequeno porto e observo o mar. Sento na única pedra no meio do rio e vejo a paisagem ribeirinha. Água doce a caminho do mar, no encontro das águas o soro salobro. Por que o fascínio das asas em céu aberto ? O barulho de um monomotor no meio da tarde me traz recordações brancas.O céu, as asas e a imensidão das águas . Às vezes quase desacelero. Não deixe nunca o barco à deriva. Basta ouvir ao longe o ruído das ondas chegando ao mar, ou do rio, água doce entre as pedras que a calmaria finda. O barulho dos meninos chegando me devolve a terra. Ruído de skate sobre o piso da sala. Irritante ter que repassar todas as normas de vida doméstica. Sobre o que mesmo é este texto? Lições. Viver é tecer a grande rede do aprendizado e lançá-la ao mar. Os que vivem aprendem sempre um pouco todos os dias. Hoje sei que os poetas são outros, trazem o líquido das esferográficas nas veias e equações insolúveis nos bolsos. |