ESCOLA
AMERICANA
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Jorge
Eduardo Machado
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À medida que a sabatina prosseguia, com o mestre a insistir naquela pergunta decoreba, aumentava o constrangimento. Para o sabatinado, é claro. Porque o professor era um sádico. Comprazia-se com a gagueira e a vacilação do aluno. Os colegas também. Riam alto, debochavam. Quanta ignorância, cochichavam! A zombaria geral mergulhou o rapaz em recordações da infância. Sempre fora motivo de chacota. Gordinho, desajeitado, lesado, quatro-olhos, pinhead (em alusão aos cravos e às espinhas)... Do que mais seria chamado? O professor investiu uma vez mais contra o garoto: Afinal, você não sabe qual era a capital do Vietnã do Sul? argüiu, com um indisfarçável risinho no canto da boca. Realmente lamentável. Você tem noção de quantos de nossos valorosos soldados tombaram naquele país? Uma verdadeira carnificina. E você não é capaz de se importar com isso. Essas últimas palavras soaram ao jovem como bombas de napalm. Ele enfiou a mão na mochila entreaberta, que estava sobre a carteira. Seu velho imbecil. Você sabe o que é uma carnificina? Já viu alguma na vida? Como? Que petulância é... Mas o mestre não teve tempo de concluir o raciocínio. Sua voz foi abafada por uma saraivada de tiros de metralhadora. No dia seguinte, os jornais estamparam na primeira página: professor e turma aprenderam, na prática, o significado de massacre um daqueles cujo terror não ficaria nada a dever a qualquer Saigon. |