VIVENDO E APRENDENDO
Doca Ramos Mello
 
 

Ó gente, vamos ficando todos espertos com a ciência, a ciência não está para brincadeiras, estou avisando e quem avisa, diz o ditado, amigo é. E eu posso apostar que ninguém prestou a devida atenção a uns pormenores recentemente divulgados na imprensa, mas li a notícia com estes olhos que a terra não há de comer porque pretendo ser cremada, e cá estou para fazer o alerta.

Os cientistas – cientista é uma turminha muito esquisita, eles ficam lá nos laboratórios falando uma língua estranhíssima que ninguém entende, a maioria com óculos de fundo de garrafa e meio fora do ar e, por isso mesmo, dizem o que lhes dá na telha, eles são assim, faz parte da função -, pois esses homens, que também podem ser mulheres, claro, além das terceira e quarta vias muito em moda na humanidade, acabam de descobrir que os insetos bebem! E bebem água que passarinho rejeita, me entendem? Maguaçam, devo esclarecer no popular e com mil perdões aos dicionários, enchem a cara, entornam o balde, viciam-se, acreditem-me! Moscas comuns, além daquelas meio pirilampas, as drosófilas, que eu juro por Deus nunca imaginei pudessem fazer uma coisa dessas, tadinhas, tão pequenas, nem cérebro devem ter as pobres, pois essas duas categorias de insetos bebem de cair e já deviam estar freqüentando o AA, tamanho o vício...

Creio até que já entendo melhor aquela sofreguidão das moscas, voejando sem destino, a fazer redemoinhos por sobre tudo quanto é coisa e tentado pousar onde não são bem-vindas – é a cachaça, o efeito da mardita sobre esses pobres insetos...

Os homens da ciência dizem que basta uma lambidinha na rolha da garrafa de pinga e moscas e drosófilas começam a desacatar as colegas, riem feito hienas a troco de nada, falam palavrões e trocam as pernas, e berram indiscrições, uma coisa triste, de tal sorte que se você fizer um churrasco com caipirinha, pode saber que as bichas vão estar por lá falando ‘zuzu bem’ e fazendo uma suruba daquelas no ambiente. Aí, é tirar as crianças do local e esperar a reclamação da vizinhança, essas bebedeiras vão longe e podem gerar problemas de violência, sabe como é bêbado... O cenário é de verdadeiras Sodoma e Gomorra, mosca nenhuma respeita nada, elas berram aleivosias, cantam músicas pornográficas, ofendem o meio ambiente e as famílias, viram o mundo pelo avesso, é o caos completo!

Como vai ficar isso?

Não sei. Acho que a Renovação Carismática precisa ser avisada para tomar providências e instituir a Pastoral do Inseto; os evangélicos devem organizar um programa de tv para que moscas comuns e drosófilas se submetam a sessões de descarrego (‘sai, cachaça, desse corpo que não lhe pertence’); o SBT tem de lançar uma apresentadora loira para comandar atração vespertina em que esses bichinhos vão lá para lavar a roupa ou a asa suja diante da platéia (“Como...hic...você queria que eu...hic...não me tornasse uma bêbada, hic, se nasci hoje cedo já vendo..hic, hic..meus pais na carraspana?”), urge que o governo federal invista no Pinga Zero, com distribuição de vacina antialcoólica para esses insetos, que seja criado o CPMF do Inseto Adicto, sei lá...

Tão perigosa situação está a exigir a atenção imediata do Planalto e, com certeza, V. Exa. Metalurgíssima não haverá de se furtar a fazer uma campanha em favor desses insetos em perigo. ZéD, que está aí, meio sem fazer nada ao menos oficialmente, pode bem ser nomeado para novo e relevante cargo, como Ministro da Causa Pró-Moscas Sóbrias – incluindo mesmo as mais famosas: de padaria... Depois, o partido faria vasta distribuição de cargos em todos o território nacional, aparelhando o governo na defesa pela saúde desses bichinhos, havendo assim boa chance de reaproveitar Delúbio, Silvinho, Freud, Duda Mendonça e tantos outros próceres hoje à espera de novas oportunidades para contribuir com a nação, afinal, nunca antes ‘nesse’ país...