NOIVO SEM VÍCIO
Adão Jorge dos Santos
 
 

Depois da cerimônia e da festa chegamos em casa. Eu e minha esposa. Ela estava linda vestida de noiva. Eu também deveria estar bonito vestido de noivo. Parado na porta de casa, relembrei as recomendações e as lições que meu pai e meus amigos tentaram passar para mim, para que não fizesse feio na hora de ficar sozinho com uma mulher.

Não deveria mostrar preocupação, tudo deveria estar dentro dos conformes. Deveria sorrir o tempo todo, mesmo que o sapato estivesse apertando o dedo mindinho e a gravata quase me deixasse sem ar. Difícil foi manter o sorriso a noite toda. Eu queria chegar em casa e praticar as lições imediatamente. Mas a festa estava muito animada. A noite parecia que nunca iria acabar.

Quando finalmente cheguei na frente de casa, lembrei das instruções de mInha mãe. Filho, não esqueça de entrar carregando a noiva no colo. Faz parte da tradição. Olhei para a formosura da noiva ainda imaculada e confesso que quase desisti da idéia. Não posso disser que ela era gorda. Era só um pouco acima do peso, só um pouquinho.... respirei fundo e com grande esforço, carreguei a noiva nos braços e entrei na casa nova.

Depois lembrei de que a pressa é inimiga da perfeição, e no meu caso, a perfeição e o bom desempenho eram fatores predominantes. Tentava aparentar tranqüilidade, que era o dono da situação, que sabia o que estava fazendo. A noiva estava linda estatelada sob a cama. Eu não sabia o que ela pesava, sabia que eu é quem deveria saber de tudo, ate o que ela estava pensando. Eu estava pensando em pular sobre ela e num ímpeto rasgar a dentadas o seu belo vestido de noiva, mas lembrei das lições passadas pelos amigos mais experientes em sedução e contive a vontade animal dentro de mim.

Abri o champagne e bebemos nos olhando nos olhos. Tudo era um mar de rosas. Depois a tomei em meus braços e calmamente fui penetrando seus virgens domínios. Beijei mão, beijei pé, beijei pescoço e outras partes que não posso revelar por tratar-se de área privada a nubentes, mas posso salientar que tudo o que me foi ensinado, foi devidamente bem utilizado.

O único porem que me deixou cabreiro foi a parte do depois. É que o antes e o durante foram exaustivamente e repetidamente praticados, disseram que o que viesse depois era lucro se as etapas anteriores fossem satisfatórias. Bom meus amigos, o fato é que nos filmes quando o homem termina de fazer amor, vê se no rosto dos dois a plena satisfação. Então o homem acende um cigarro e solta baforadas pelo ar, demonstrando que tudo correra a contento como deveria ser. O fato é que não fumo, e sempre me imaginei, ao termino de uma noite de amor, acendendo um cigarro e soltando prazerosas baforadas pelo ar. Estou meio confuso quanto a este fato. Será que devo sair para comprar cigarros ou fechar os olhos e fingir que estou dormindo?