CIGARRAS, GUAIPECA, FLOR-ESTRELA
Clarice Villac
 
 

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No meio da manhã.
De repente a gente se dá conta — a preencher todos os espaços — cigarras da primavera.
Respiração se dilata — som contínuo de lata.
Aos poucos voltamos a atenção para o que fazíamos...
E quando ‘levantamos a orelha’, qual cão guaipeca — não, não há algazarra, cigarra se calou.
Retomamos os afazeres.

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Tarde isolada entre reais e imaginários.
Lá estão elas, cigarreando com animação.
Olhar se espraia — sim, existem mistérios palpáveis.
Mas, como dizia, se continuarmos, a partir deste parágrafo poderíamos sinalizar as prioridades...
Passam-se as horas, o dia arrefece em relativo silêncio conhecido.

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Alta noite, ímpeto incontido — cigarras na farra.
Chega, nada sério inventarei agora.
Da varanda, avisto, pendurada no caramanchão de rósea primavera, estrela rara flor, ontem extravagante botão.
Máquina fotográfica, captarei a impressão.
De perto, perfume doce único, segredo tropical.
Anunciada apenas pelo perfume, discreta por entre a exuberância das cigarras.

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Vou com meu cão guaipeca.
Sensação aguçada, agradecida plenitude.

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Manhãzinha, escuto vozes vizinhas.
A reclamar das cigarras estonteantes, das folhas ventadas no chão, dos latidos do meu guaipeca, da folia dos meus gatos sapecas, do rock do meu filho ativo, das portas e janelas que o amor abre nas madrugadas...

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Assim seguimos nossa aventura.
Sem a incerteza de apenas seguir olhando a vida alheia.

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