Alfredo,
Resolvi
te escrever depois de tanto tempo porque encontrei o Ali Baba
num pagode na Lapa e ele me deu notícias tuas.
Quem
diria que ias casar na Igreja, com a noiva de véu e grinalda,
padre e cortejo de anjinhos. Claro que havia um bacuri na barriga
e um sogro delegado na história, mas isto é detalhe
maldoso. Não ri mais porque o Ali ficou chocado e eu precisava
saber até o fundo a história gloriosa de tua conversão
ao mundo dos homens sérios.
Com
muitas cervas na cuca e algum charme da minha parte (aquele teu
amigo arrasta um bonde por mim) consegui até uma foto da
pobre azarada, digo da feliz consorte e do menino, o primeiro
do teu prometido time de futebol.
A
moça me pareceu meio cansada, Alfredo, não creio
que chegue a parir nem três diabinhos como o que traz no
colo. E com certeza, aquele colesterol acumulado em banha é
fruto das noites bem dormidas que proporcionas à filial,
enquanto as matrizes emagrecem nos lençóis do Motel
Beira Mar.
Mas
não existe regime melhor do que te abandonar, isto eu garanto.
Na
foto sua mãe também parece mais forte, deve sugar
o sangue da santa mulher, ajudada pela minha ex-cunhada, com o
mesmo sorriso falso abraçando a pobre.
Confesso
que tive pena. Ainda mais depois que o Ali, animado pela sugestão
de uns amassos encomendados na dança, confessou que continuas
com a Laurinda. Não entendi o verbo, já que tu nunca
tiveste nada com a pobre senhora nossa vizinha. Mas ele ainda
colocou mais umas quatro amantes na conta, talvez imaginando que
o despeito me faria abrir o peito para suas mãos bobas
e inúteis de falso amigo de fé.
Levou
um belo fora para aprender a não trair as esposas honestas
como eu e a pobrezinha da tua mulher.
Saiu
ventando com mais um recado para ti.
Como
você envelheceu, Alfredo! Igreja, mulher fixa e filho nunca
te fizeram bem. Volta pra jogatina e pros pagodes do Enchanted
porque periga de perderes o charme de camelô barato.
Na
verdade, estás mais pra dono de botequim da Tijuca, o que
seria a glória pra tua mãe, a cunhada, a senhora
tua esposa e os bacuris.
Mas
uma pena para quem já morreu de amor nos teu braços
de antes.
Alfredo,
sinto informar, coração, mas tu já eras.
Eu
|