MEDO?
NÃO, PAVOR!
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Elaine
Brunialti
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Uns têm medo de barata, outros medo de avião, de cobra, de altura, quanto a mim tenho medo de aranhas. Para ser bem sincera não é bem medo. É pavor. Tudo começou quando eu tinha uns 10 anos e a escola nos levou a um passeio no Instituto Butantã. Quando fomos avisados do passeio, pensei: - eu não vou e pronto. Quer dizer ponto e virgula, porque naquele tempo criança não tinha muito querer e assim no dia e hora marcados lá estava eu em frente à escola embarcando no ônibus que nos levaria ao ilustrativo e educacional passeio. Na chegada fomos recepcionados por um monitor que se encarregou de nos esclarecer sobre o trabalho desenvolvido pelo instituto, sobre a fabricação de soro para as mais variadas picadas de animais peçonhentos e sua distribuição. Quando eu já estava achando a visita interessante fomos convidados a conhecer as espécies (ugh...) que o instituto abrigava. Começamos pelos ofídios, ou cobras, como queiram. Horríveis sim, porém não me metiam muito medo. Eu até estava acostumada a vê-los assim ao vivo, a cores e mortos, pois em Peruíbe, onde eu passava minhas férias, era comum os caiçaras caçarem cobras e algumas eu sabia enviavam para o Butantã, eu até sabia que cobra d´água não era venenosa, enfim deu para encarar esta parte da visita. O negócio começou a complicar no setor dos escorpiões, sinto um calafrio até hoje só de pensar. Havia uns pequeninos, outros maiorzinhos, uns pretinhos, outros marrons alguns avermelhados, todos eles com aqueles ferrões na cauda e pinças nas patinhas dianteiras. Ai que horror, e ainda para ajudar lembrava de minha avó contando que foi picada quando calçou os sapatos. Até hoje costumo olhar os sapatos antes de calçar e, em ambientes que não conheço, bato os infelizes no chão. Voltando a minha avó, ela dizia que pior que a picada foi a vacina, muito mais dolorosa. Hoje acho que havia um certo exagero, mas na época eu imaginava que a vacina também deveria ser venenosa para doer tanto. Mas voltando a visita, finalmente chegamos a pior parte do passeio, hora de conhecermos os aracnídeos. Por detestá-los tanto (bem hoje acho que estou afrouxando...) ainda me recordo das fotos que mostravam o estrago que certos venenos provocavam, e dá-lhe aranhas: grandes, pequenas, pintadas, peludas, peladas, perninhas, corpões, pernões e corpinhos, armadeiras, de jardim, daqui e dali. Sempre horrendas. Voltei
daquele passeio um milhão de vezes mais medrosa do que quando
fui, o que me fez e faz passar muito tempo fugindo até daquelas
aranhinhas que comem moscas, você já reparou que elas pulam
e se você pensa em matá-las esquecem da mosca e pulam em
você? Lembro-me bem da aranha caranguejeira, e n o r m e, próxima à janela de nossa cozinha, tinha o tamanho de um prato raso, bom, eu perdi a voz tamanho o susto e aprendi que para matar aranha nada melhor que uma boa e segura tocha de jornal presa a um cabo de vassoura, fogo na tocha e na aranha. Depois a Brunilda, mascotinha que morava no lustre do quarto da minha mãe, dessas aranhas que sobem e descem no fiozinho da teia, eu a odiava, mas meu irmão achava uma gracinha e também não ficava no meu quarto. Até o dia que ela teve a infeliz idéia de descer do lustre em seu fiozinho bem no nariz do meu pai e então entre dois chinelos foi-se uma Brunilda, nome aliás sinônimo de aranha em minha família até hoje. Depois eu mesma matei uma que fez uma teia imensa entre os fios do varal do meu quintal, assustadora ali plantada bem no meio da teia, fiz a tal tocha e fogo na dita cuja, juro que apesar do medo me senti meio tristonha, mas quem mandou ela ir fazer a teia bem no meu quintal. Mas acho que devo andar com algum sério problema, porque dia desses na mesa do escritório apareceu uma das tais que caçam moscas, fiz de tudo para que ela saísse pela janela, tentei tirar com uma folhinha de papel, soprei, enfim eu não estava com a mínima coragem de matar aquele ser estúpido que invadiu meu local de trabalho e depois dessas inúteis tentativas meu medo falou mais alto e dei cabo da aranhinha com uma bela agendada. O pior veio depois, de remorso, eu chorei. |