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Carlos Mestre
 
 
Quando eu descobri que o Túlio tinha aquele blog na Internet, pirei. Fiquei completamente maluca. Aquele monte de fotos dele, mascarado, mas absolutamente reconhecível, transando daquele jeito, com aquelas mulheres, meu Deus! E eu nunca tinha visto aquela gente na vida.

Quando nos casamos, ele me pareceu a pessoa mais normal do mundo. Caseiro, carinhoso, gentil. Nada de futebol às quartas, ou reunião inesperada nos fins-de-semana. Nada de telefonemas repentinos, sussurrados ou no meio do jantar. Onde é que ele arrumava tempo praquilo? E onde é que ele arrumava tempo pra colocar aquelas coisas todas na Internet, se ele só ficava umas duas, três horas por semana, no máximo, no computador?

Eu sei que parece loucura, mas ontem eu estava exatamente aqui, acessando o blog dele; como faço todos os dias, desde que ele morreu. Ah, eu não disse, né? O Túlio morreu há um ano e meio, atropelado. Bem aqui em frente de casa. E como eu soube do blog? Recebi um e-mail desses instantâneos, que depois não se localiza mais. Tinha um link pro blog do Túlio. Quem mandará aquilo? Não sei, e acho que nunca saberei.

Mas como eu disse antes, fiquei maluca. O meu Túlio não podia ser aquele pervertido e exibicionista que eu via agora. Mas era ele. A dor da saudade e o fel das lágrimas que me entravam pela boca davam lugar, a cada vez que eu acessava o blog, a um ódio de fêmea que nenhum homem jamais entenderá.

Você me pergunta por quê? Por que, então, eu entro nesse maldito blog todos os dias? Eu digo: curiosidade no princípio, mas depois... Depois um misto de saudade e excitação, sei lá. E eu descobri que parte da minha memória está disponível para quem quiser ver. O homem que eu amava morreu apenas para mim, porque o corpo dele ainda perambula sabe Deus por que cabos ou redes sem fio.

Faltou dizer que, neste exato momento, eu estou morrendo de medo. Sabe por quê? Porque ontem o blog sofreu alteração. Há uma nova foto do Túlio, vendado e amarrado a uma cadeira. E a foto tem legenda. E a legenda diz: me ajude, pelo amor de Deus!

...CONTINUA
 
 
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