PREMONIÇÃO
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Andrea
J. Santos
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Os meus dias passam facciosos, lamento a saudade em meu coração. A sua ausência predomina e a agonia persistente me apavora. De vez em quando abro os bilhetes que em poucas palavras resumia um amor viçoso e sagrado. Lamento ter durado tão pouco. Lembro-me dos versos que escreveu, cantares solúveis ao meu ego e cariciosos a minha alma. Uma história incitante, um amor jamais visto, nem sentido, apenas feito para nós dois, apenas respirado por nós dois e incógnita ao nosso entendimento. Os nossos corpos se misturavam, as nossas mãos se envolviam, se sentiam de forma infinda. Em um pragmático sentido nos perdiamos e mergulhavamos em um mundo desconhecido, relutante à nossa lucidez. Em uma manhã a premunição resolveu me fazer uma visita. Senti um vento frio soprar em meu rosto, melancólico e solitário. Uma sensação sombria que envolvia-me em uma ambigüidade ressonante e doentia. Pensei em você e o meu coração se retorcia em profunda aflição, fui tomada por uma vontade intensa de chorar e me vi perdida em pensamentos que nem eu mesma sabia as origens. Sentei-me enfurecida pela saudade, queria você naquele instante, desejei com ânsia o seu corpo e em trêmulo soluço salivava o amor existente em mim. Pensei estar louca ou que talvez fosse a nostalgia,ávida vontade de te ter a todo instante. Debrucei-me sobre a cama, senti o meu corpo frio, os meus lábios secos e a lucidez partir diante dos meus olhos. Senti a sua mão sobre o meu vestido, despindo o meu corpo, acariciando a minha pele. Seus lábios quentes sobre o meu colo, deslizando feito brumas. Solucei de prazer, enquanto a sua boca mergulhava em meus lábios, molhada, suave, embriagante. Senti a sua presença em mim, o seu amor me vestia, enquanto as suas mãos me mantinham nua, seu corpo sobre o meu, minha pele na sua. Horas depois acordei, e me dei conta de estar sozinha, as horas passaram depressa e a noite havia chegado devagar e sombria. Uma angustia tomava a minha alma, senti-me agonizar, senti medo... Sobre a penteadeira mais um bilhete seu, olhei-me no mesmo espelho que costumavamos nos olhar abraçados, sobre a doçura dos nossos beijos depois de fazermos amor, não sabia que seria o último, mas o li com precisão. Você como sempre me deixava um bilhete, com palavras doces, com frases de amor. Mas ao terminar de ler chorei copiosamente, estava sozinha, vazia, faltava um pedaço de mim. O telefone tocou... Eu já sabia... Ali fiquei paralisada, quieta... Já não mais havia sentido, e vi a minha vida esvaecer-se, seguindo o mesmo caminho que a sua... |