PELA AVENIDA ENCANTADA
Zeca São Bernardo
 
 

É carnaval, carnaval !
Ecoa o brado alegre pela avenida.
Preto e prata, minha escola vem chegando,
Vai entrando na passarela.
Para contar mais uma historia,
De homens de fé na vida e muita coragem.
De mulheres mais belas,
Que as mil promessas de qualquer religião.
Mas teimam meus olhos em procurar você ,
Na direção contraria, sigo com o olhar
Cada passista, mulata e destaque.
Pergunto ao mestre sala e a porta bandeira,
Alguém viu meu amor ? Sabem para onde ela partiu ?
Sorrisos, lagrimas e aplausos...
Confundem-se com o toque forte da bateria.
Firme segue, quase tão alto como o pulso
Do meu coração ansioso.
Lança-se aos céus serpentina e confete,
Mas eu só consigo olhar para o chão
Procurando pela ilusão
De uma pegada sua em meio a um mar
De estrelas de papel.
Canta alto o puxador, uma historia de amor
Tão triste que bem poderia ser a minha.
Quero só um sorriso seu e
A promessa de que no próximo carnaval
Não viverei outra noite de agonia...
Verde, rosa, azul com dourado
Preto e prata.
Tantas cores juntas combinadas.

Refletidas nos olhos da multidão,
Na arquibancada, e eu aqui procurando pelos castanhos
De teus olhos.
Entre brilhos frenéticos
Distribuídos generosamente por tantos corpos
Procuro pela lua refletida, em teu colo.
Segue a minha escola até o fim do percurso,
Espera pelo resultado no outro dia.
Enquanto sigo procurando por
Meu amor pelas ruas
Pelas avenidas, pelas esquinas,
De bar em bar, pelos barracões de outras escolas,
Ainda fantasiado e sonhando...
A avenida ficou pequena para meu amor.
Quem sabe assim você me reconhece,
Lembra de mim e de nossas juras de amor
Feitas no calor da paixão.
Ou será, que há muito, você abandonou
A avenida, o carnaval e a fantasia ?
E sou só a lembrança remota de uma noite,
Já muito passada ?
Se assim for, se for assim
Arranquem meu coração e queimem
Façam cinzas para distribuir na Quarta-feira.
Durante a missa, pois já não vivo mais sem a esperança,
De te reencontrar nessa avenida encantada, colorida
E movimentada que, um dia, chamei de vida.