O SILÊNCIO DOS INOCENTES
Hugo Carvalho
 
 

O tempo é a maior das distâncias entre duas pessoas. Talvez por isso minha carta anterior não tenha chegado até você. Viaja, ainda, na vastidão de um tempo que se fez passado ou, quem sabe, saiu dos trilhos, perdeu o rumo indo bater noutras mãos, incapazes de compreender o quanto então lhe dissera.

Da cumplicidade e da parceria na viagem que empreendemos, enquanto nossas vidas moraram no mesmo vagão do expresso da existência, nada mais restou de significativo. Singelas lembranças perdidas no fundo das gavetas ou espalhadas por aí, simples objetos de brinquedos em mãos de crianças que não foram nossos filhos. Nossas fotos que contigo ficaram, eu sei, foram rasgadas todas. Exigências (in) compreensíveis de um novo amor.

A avassaladora paixão que nos uniu era por demais exigente. O mundo era nosso e apenas nosso. Nossos prazeres eram nossos e apenas nossos. A voracidade louca da nossa paixão, que nos fez efêmeros amantes por uns poucos (quantos?) anos, a tudo subverteu e condenou ao eterno silêncio os filhos que não tivemos.

Tal silêncio ecoa no meu peito deixando a dor, doída, de uma profunda saudade daqueles teriam sido testemunhas do nosso amor.