TRECHO
William Stutz
 
 

Falo assim com saudade, falo assim por saber.
Se muito vale o já feito, mas vale o que será
E o que foi feito é preciso conhecer para melhor prosseguir.
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O QUE FOI FEITO DE VERA, Milton Nascimento e Fernando Brant -

Para começar tenho que explicar como se chega. Vamos lá então. Saindo de Uberlândia sentido Prata. Estrada de chão. Asfalto só depois da ponte do rio Tijuco. No posto Pratão tomo rumo a Frutal mas logo viro para Campina Verde, asfalto e bom, dura pouco.

Pastel de gueiroba com refrigerante e toca em frente. De Campina Verde segue-se para Honorópolis, estrada boiadeira, chão puro, estreita, cinqüenta e quatro mata-burros contatos dezenas de vezes.

Ainda no chão ruma-se para Iturama. Descanso, pouso, seguir só no outro dia, bateu cansaço e o caminho ainda é bravo.

Próximo destino Monte Alto, hoje Alexandrita – uma pena nome tão bonito, mudaram, pensa só –, até Estrela da Barra, lá adiante, virou Vila Triângulo, o poético virou geométrico. Porteirão virou União de Minas.

Pega estrada de chão, demora, chegamos à vila Carneirinhos, hoje emancipada, virou cidade, miudinha, miudinha, mas estranhamente agradável, bonita. Toca a correr.

Passa o pé de galinha, o buraco do chinês; erosão gigante, voraz, sempre com fome come terra, enfeia, destrói tudo à sua volta.

Corta córregos e veredas, guinada à esquerda, alguns curtos quilômetros. Chegamos. São Sebastião do Pontal. É aqui que tudo começa.

Só um recado: para fazer o trecho descrito eram gastos dois dias de viagem, distância 380 km. Uma parte de 90 km, nas águas, consumia até 10 horas, quando dava de chegar, outro caso era ficar fincado em atoleiro de terra massapé, terra de cultura da boa. Aí a chegada a Deus pertencia. Vai saber. O ano? Isso era 1982. Logo ali.