POR
DETRÁS DO PENSAMENTO
|
Luísa
Ataíde
|
O
rapaz entrou no pequeno banheiro do restaurante e abriu a torneira,
juntou às mãos um pouco de água e lavou o rosto.
Quando ergueu a cabeça sentiu que a parede às suas costas
girava em sentido horário, mas sua figura embora estática
girava no sentido inverso a ela. A luz do ambiente caiu como se subitamente,
não mais fosse horário de almoço. Manteve-se em
posição de vigília, observando. Não mais
ouvia o barulho dos garfos na pia de metal da copa ao lado. O silêncio
tinha um ruído abafado. Como se a imagem a sua frente se projetasse
num filme mudo. Agora a outra margem do rio era completamente visível.
Observou as folhagens das árvores e as pedras do lado esquerdo.
Seu corpo girava como se estivesse numa canoa e o remo tentasse vencer
o peso do barco. Não saberia dizer se seu corpo girava ou o espaço
do lado esquerdo se aproximava, agora era parte da canoa. Sentiu o cheiro
de querosene que vinha do saco encardido sobre o banco do barco. Sentiu
a criança deitar a cabeça sobre seu colo, não deveria
ter mais de quatro anos. A menina choramingou qualquer coisa, olhou
desolado o saco de pano quase vazio. |