NADA DURA PARA SEMPRE
Angela Viana
 
 

Correria, confusão, excitação. Essas palavras resumem o que foi aquela manhã em que a família Soares, com seus sete membros, saiu da fazenda em que os pais e os filhos mais velhos sempre trabalharam e decidiram se aventurar na cidade grande, como tantos outros haviam feito. Aquela seria uma viagem sem volta e Giovanna sabia disso, era a quarta dos cinco filhos que Antônio e Augusta tiveram e naquela época tinha cerca de seis anos.

Sabia que ia sentir falta de tudo o que vivera até ali, pois jamais havia saído do sítio em que nasceu e, ao contrário dos irmãos mais velhos e da irmã caçula, que se mostravam tão alegres com a mudança quanto seus pais, Giovanna sentia que deixaria um pedaço de si para trás e seus grandes olhos verdes estavam rasos de lágrimas, mas ninguém percebeu a emoção contida naquele pequeno rosto, pois todos estavam eufóricos demais com a viagem para se preocuparem com ela.

Antes de partir, a menina tentou ir até o pé de manga, que era seu esconderijo secreto para olhar a fazenda pela última vez, mas foi impedida pela mãe, que disse:

- Cuide da sua irmã e não invente histórias.

Agarrada à mãozinha da irmã, três anos mais nova do que ela, Giovanna foi caminhando silenciosamente até a estrada, onde o carro do patrão aguardava para levá-los até a rodoviária. Os dois irmãos mais velhos já tinham ido com as malas. Já no interior do veículo, olhava a paisagem tão conhecida que ia ficando para trás e se despedia silenciosamente de tudo o que era o seu mundo até então.

Como sempre acontecia nas raras vezes em que andou de carro, acabou adormecendo e acordou com a voz do pai, dizendo-lhe que haviam chegado na rodoviária e que o ônibus já os esperava. Não teve tempo nem ao menos de se despedir do patrão, que sempre a fazia rir com suas brincadeiras engraçadas.

Já no ônibus, lançou um último olhar para a rodoviária que foi ficando para trás, desaparecendo na distância e, não conseguindo mais conter a tristeza, rompeu em prantos, chamando a atenção dos passageiros e irritando os pais e os irmãos, que a repreenderam com palavras ásperas, incapazes de compreender sua angústia. Aquela viagem foi inesquecível para Giovanna, que naquele dia aprendeu uma difícil lição que a vida nos ensina de diferentes maneiras: nada dura para sempre.