OS
POMBOS
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Alexandre
Zampier
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Havia acabado de chegar em casa, à única coisa que me atraia era a luxuria de um banho quente. Sem demoras, agarrei uma toalha decidido. Enquanto relaxava debaixo da ducha e embaixo dos meus livres pensamentos, fui interrompido por um barulho impertinente, de ruído fracassado. O telefone tinha por esta propriedade, me interromper em momentos meus de calmaria. por outras vezes sairia pelado, molhando todo corredor e sala para reconhecimento da voz do outro lado, o que nunca trazia grande satisfação e mais, longos reclames de minha adorada irmã da água causada pela ação. Mas não, agora tinha uma coisa mais forte pancadiando minha cabeça. O riguiar do telefone soava como o tal do Mozart na cena inventada por meu emocional, que pela bitolação do meu trabalho, ainda trabalhava muito bem, obrigado. A cena, de longe, nada tinha de diferente, mas ao longo do trajeto em qual fui chegando mais perto, pude observar o cristianismo mórbido contido na cena. Uma velha senhora, com velhas roupas jogava restos de seu pão, que parecia os restos de seu almoço, as sujas pombas de um parque. De longe fiquei a observar que a cada levada de pão, quero dizer, migalhas, repedia duas palavras que eu não conseguia compreender. Cheguei mais perto e tomei posto atrás de um arbusto grande que floria o parque, me ajeitei num banco e minuciosamente fiquei a observar. Seus olhos eram de quem acreditava no que estava fazendo, nada a desconcentrava. Ela estava sentada, as migalhas por todo o seu colo, o que mostrava que os restos seriam de um pão seco. Repetia com fidelidade a cena toda vez. Seus olhos crentes, sua mão buscava duas ou três migalhas, como um ato respeitoso, a velha mulher jogava essas desenfreadas fés as pombas que nada entendiam, apenas comiam. As duas palavras eram repetidas, os movimentos sempre os mesmos. Eu estava inquieto, não conseguia compreender o que ela dizia. Ela não alimentava os pombos pelo simples ato de caridade, queriam ter elas a sua volta, queria mandar no destino de alguma coisa, apesar de sempre ter mandado, mas nunca ter percebido. Gostava disso, perceber que sal ação tinha um retruco, um retorno. A cada pouso de uma nova pomba, sua ânsia aumentava, qualquer um que estivesse observando poderia perceber. Suas mãos suavam, as migalhas não mais queriam sair delas. As pombas cada vez mais eram mais. As palavras não mais queriam sair delas. As pombas cada vez mais eram mais. As palavras agora saíam com mais força. Entendi que a primeira era comam, mas não conseguia entender a segunda. A cena me lembrou de que quando era pequeno e ia sempre a missa com meus pais, em um certo momento, todas as pessoas organizadamente, tomava da mão do padre um pãozinho que eu e minha irmã adorávamos comer no final da celebração. A única diferença que constatava era a desorganização das pombas, no mais, era nada na comparação dessas duas cenas. A
mulher me instigava, porque seus atos me instigavam, como parecia que
instigavam as fervorosas pombas. Fui me sentar ao seu lado, apenas me
detive em sentar um pouco mais a beira do banco. Nem as pombas, nem
a velha senhora se deram conta da minha presença ali. Por cima
do meu jornal pude reparar nos seus lábios e no escorregar de
suas duas palavras. Memorizei o movimento de sus lábios e parei
por alguns segundo para estufar sua profecia. Antes do meu intuito final,
a velha caiu com a cabeça do lado do meu colo. Estava morta.
Só então pude perceber que as palavras ditas pela sua
boca eram: comam veneno. Não acredito na tristeza ou felicidade
das pombas, ou se preferirem, dos seres. Apenas na sutiliza realidade
do acreditar. |