CRÔNICA NÚMERO 27
Osvaldo Pastorelli
 
 
giro o dial para a esquerda
desligo o sentir carmico da vida de rotina
volto à solidão fria
minha atenção se fixa no espelho trincado do meu rosto ensaboado
a água do chuveiro inunda o banheiro de vapor
o aparelho desliza limpando o lado esquerdo do rosto
um filete de sangue avermelha o branco perfil da pele lavando a espuma que escorre no emaranhado de pêlos do peito
passo a mão
construo lembranças do teu corpo moreno roçando doidamente o meu
como a brisa lambe as folhas verdes da primavera
como o sol que aquece a pele da terra
assim meu corpo amendoado endurece meu desejo insaciável
lentos movimentos se concretizam na evolução dos teus gestos
ao comando do mestre de ala
coadjuvante se impõem fazendo-me de escravo
parado sem me mover ou olhar para trás, vejo minha pele ao sentir o roçar do teu peito machucando minhas costas
gostosa afloração do desejo por ti se insinua ao sentir tua mão carinhosa em meu peito
estremeço
adivinho o movimento seguinte
rijo pronto aceitar a carne que se prepara
seus dedos petulantes se enroscam nos pentelhos
seus dedos leves macios se introduzem na minha virilha apertando meu corpo contra o teu
tua língua úmida passeia ligeira pela nuca num arranhar de dentes
como animal rolamos no chão do prazer conquistado