Sempre
elegante, uma verdadeira dama, ele pensava, enquanto diante de suas
provocações ela se aprumava e diante de seus elogios,
ele se encolhia, e sabia que com ela toda provocação seria
inutil, ele jamais descobriria os segredos por trás daquela mulher
que não se revelava, talvez no fundo quisesse vislumbrar o mistério,
mas o mistério é uma revelação pessoal e
ele sem saber o que responder continuava o jogo que aprendera a tão
pouco tempo: escrevia.
Sua poesia tosca, seu português tacanho, seu estilo imaturo e
sua palavras repetitivas, mais que ocultar explicitavam a sua obscura
personalidade fugidia que se embrenhava por entre os livros, a música,
a paisagem que o envolvia e sua ânsia de querer saber das coisas,
enquanto isso desfiava seu humor ácido que não fazia sorrir,
sua prosa luxuosa tirada do lixo de suas entrelinhas, e de sua comida
artificial, pois que não era sua, apenas comprava com seus parcos
recursos a matéria prima e a mão de obra que colocava
à mesa.
Não é a toa que seus escritos só podiam sentir
o Homem como um animal, não desses que são levados pelo
extinto, mas pior, pela sua razão. Razão sempre irracional,
que insistia em racionalizar até seus menores sentimentos, um
animal que jamais descobriria o que é ser uma borboleta, um lagarto,
um morcego. E perdido em suas provocações se deparou com
ele mesmo, diante de si e do mundo, um vasto sistema simbólico
os separavam, teria que mudar os signos, já se fazia hora, para
que pudesse esclarecer o que mais lhe impressionava, o Ser Pensante.
Mas como mudar os símbolos sem se transformar? Mas a mudança
não fazia com que esses símbolos como um caleidoscópio
a toda hora se transformasse em outras coisas que não ele mesmo?
Foi para o samba, e lá se perdeu a noite inteira, deixando que
a madrugada lhe trouxesse respostas...
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