ANIMAL: A FUGA DA RAZÃO
Gisa Elle
 
 

Os elementos básicos da natureza:
Terra, água, ar e fogo
Revelam toda a grande pureza
Em um dia de outono.

Cada qual a seu momento,
Aparece de repente;
Sendo que é no deserto,
Que encontramos a serpente.

Esta que desliza sobre a terra,
Respira o ar que invisível a cerca;
Sendo que para descansar procura,
Uma profunda e estreita sepultura.

Mas voltando aos perfeitos elementos,
Que no outono se manifestam,
Cada qual em seus momentos,
A espera de um alerta.

O ar sempre nos cercando;
A terra sempre nos amparando;
O fogo expresso no sol se deitando;
E a água pura nossos pés enxaguando.

Esses mesmos elementos, quando unidos
Aos corpos inundados de desejos,
Fazem dos ambientes, antes bravos e sombrios,
Um elo perdido na maciez de doces beijos.

Fantasiar:

"A noite,

Em meio ao cheiro verde que as plantas dissipam,

Nos encontramos a sós, encostados ao pé de um antigo Carvalho, que através da deusa copa, deixa a vista os resquícios da luz lunar, esta enviada por uma lua maravilhosamente cheia. Em seu tronco vemos as marcas do amor de casais, que como nós, encontraram nesta forma, uma maneira de deixar para algumas das próximas gerações, o quanto nos adoramos.

A lua se faz alta, e a beleza das estrelas cai sobre nossos corpos, que juntos neste momento se encontram em decorrência do frio emancipado pela garoa fria da noite paulista.

Nossos olhos não conseguem descansar de mirar um ao outro, parecem ter se congelado pela intensidade do desejo que possuem, este de dizer o que vêem, mas preferimos guardar esses anseios para uma outra hora, em que nossas peles ao serem tocadas uma pela outra, se transformem em vivas e incandescentes formas distorcidas de uma volúpia altamente indiscritível.

Você olha profundamente para meus olhos que se perderam em seu horizonte, e parece, quando volto a realidade, que está despindo minh'alma, meu corpo e meu contexto, como um animal que não tem controle, pois não responde a razão, querendo satisfazer apenas aquele desejo que inconscientemente despertei ao apertar um pouco mais meu corpo no seu. Já tendo consciência de meu inusitado ato, começo a beijar-lhe com grande intensidade, fazendo com que caíssemos ao chão, onde já podemos sentir a terra úmida se transformando, em decorrência da garoa, em um elemento homogêneo.

A chuva chega e se derrama em nós, transformando aquele elemento a pouco descoberto, em lama, e assim, enquanto observamos essa magnífica ação natural, nossa criatividade se alerta e homogeneiza-se com aquele anseio que ha pouco havia sido adormecido, criando assim imagens inesperadas em nossas mentes. Ali nos tornamos seres desesperados pelo amor que estamos prestes a conceber. Acalentamo-nos um nos braços do outro, e quando a razão volta a reinar, nos deparamos com a visão de estarmos de volta ao pé daquele Carvalho, que simplesmente inspirou uma cena de amor exausta da razão, e entregue totalmente ao desencontro emocional..."

As profundas imagens que o fogo,
As enormes vertigens que a terra,
Os gigantes temores que a água, e
A grande sensação que o ar nos deu,
Encheram de forma embriagante nosso sentido de realidade,
Desencadeando assim uma fuga desenfreada contra os limites da razão.