Conheciam-se muito bem. Eram daquele tipo de casal que um sempre sabia o que o outro estava pensando. Faziam juras de amor, planos para o futuro, estes repletos de promessas implícitas de loucuras. Queriam-se muito, desejavam-se mais ainda. Ele falava em alma gêmea, ela nas promessas de Deus. Se completavam.

Se alguém pudesse presenciar uma conversa entre eles, já mais acreditaria que se conheciam há apenas nove dias. E foi no nono dia de romance ardente que ele lhe contou uma linda história.

-Amor, hoje quando você me ligou eu estava em frente ao mar e de repente olhei para a água e pensei ter visto um cachorro. Meus olhos custaram a acreditar no que eu via, mas surgiu uma foca na minha frente. Era um bichinho maravilhoso, muito dócil. Parecia cansada quando saiu da água e ficou olhando para mim como quem diz: "Me ajude, por favor. Onde estou?"

-Aí chegou um policial ali. E eu perguntei para ele: "Mas o que foi que a foca fez? O senhor está autuando ela e a leva presa...quero saber o que ela fez de errado."

Achei que era porque ela deveria estar sem passaporte, a coitada tinha vindo da Patagônia sem autorização.

Só poderia ser por isso que ela havia sido presa. Fiquei revoltado com essa arbitrariedade. Afinal, isso é abuso de poder.

Olha amor, tem gente que não tem noção mesmo. E ela, a foca, estava tão elegante...

Fiquei triste e fui embora. Mas quando deixei a praia, olhei para trás e enxerguei mais ou menos umas treze focas. Ou seriam dezesseis? Bem, isto não vem ao caso, eram bastantes. Mas só uma foi presa...Aquela desocupada.

Ao final da história ela chorava de rir, e o seu coração dizia sem parar que aquele homem que amava os animais e criava lindas histórias sobre eles, eram nada mais, nada menos que o grande amor da sua vida.