PANDORGA
- VELHA DA RUA DA ESCOLA
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Bee
Scott
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As ruas de Laguna são estreitas e feitas de paralelepípedo, as casas antigas perpetuam a história da cidade onde viveu Anita Garibaldi. Algumas ainda conservam aqueles azulejos portugueses com arabescos azuis datados de 1584. Tudo parece rodear a praça, o clube o banco do Brasil e a igreja. Minha escola era ali, no miolo de tudo. Na esquina, havia um boteco, que vendia aqueles famosos sorvetes secos com maria-mole dentro, eles traziam um anel dourado com pedra vermelha, parecia uma jóia! Toda menininha queria ter um adorno daqueles. Eu corria para o escritório do meu avô que ficava em cima da rodoviária. Pedia um cruzeiro, para comprar a tal jóia do sorvete, mas o grande empecilho era uma velha que andava pelas ruas, parecia mais uma bruxa das histórias que embalaram nossa infância. Cabelos acinzentados, descabelada, roupas largadas e rasgadas, usava uma capa preta toda em farrapos, parece que já vi esta imagem em algum livro... Ela tinha como ponto, o boteco onde vendia o sorvete, quando nós estávamos na esquina, próximos de comprar nosso contento, alguém gritava: Olha a Pandorgaaa!!! Saíamos correndo, morrendo de medo daquela mulher tão horripilante! Um dia eu parei em frente aquela senhora, ela começou a falar da vida, balbuciar palavras quase sem sentidos, fiquei olhando, eu era muito garotinha e, de certa forma, aquelas palavras não faziam muito sentido naquele momento. Hoje mexendo em minha memória emocional, lembrando-me desta mulher, entendi que era apenas uma solitária, sofrida, sem ter o que vestir e comer, era uma personagem das ruas, da história da minha cidade, a mulher da minha história. O meu bicho papão! O que era temeroso nela, era somente a casca.Nada vai ultrapassar o sonho de menina, ter um anel dourado com pedra vermelha, do sorvete seco com maria-mole! Hoje um anel de ouro e rubi não exerce o mesmo fascínio sobre mim. Todas essas imagens são presentes sempre que penso nas ruas da minha cidade. Dizem que a Pandorga morreu caída nas ruas. |