BILHETE
Suzana Garcia
 
 

Não te vi na maternidade, nem lhe dei banho quando bebê.
Não ajudei seus primeiros passos, nem patinar te ensinei.
Não corremos no parque juntos, não te dei banho eu sei.
Não conheci sua professora, não te dei comida, pensei

Que um dia tudo isso, passaria e você
Entenderia que te amo e me olharia pra ver
Que fui um pai meio estranho,
Não aprendi a ter amor, mas a vida ensina
E meus valores mudaram, na medida de cada dor

Minha filha estou aqui, ainda com medo, confesso
Não sei se te beijo ou só olho
Pra este rosto , lhe peço
Me queira bem, de verdade
Meu amanhã depende disso
Afinal na minha idade
Este é o único compromisso

Saber que minha prole esta bem
Com saúde, feliz e segura
Deste mundo insano que eu
Dediquei minha vida inteira e só agora e
De qualquer maneira, percebi que não valeu

Nem sei se falta-me amor, ou ainda, é excesso de dor
Por não ter sabido ou podido, lhe dar um pouquinho de amor
Agora que já és adulta, te peço não avalie o passado
Nem o futuro projete
Apenas me olhe e me abrace para que eu possa senti-la
Sou seu pai sim e ainda tento, viver e não mentir

Vou tentar me entregar e interagir com você
Se ainda assim quiseres e for a tempo pra ti
Minha filha eu te amo, tenha certeza, é fato
Sou só meio confuso pra lidar,
Não tenho tato.

Estou confuso, estou com medo.
De não tê-la ao meu lado quando minha alma partir
Quero poder, ao menos vê-la, aqui no hospital, tente vir
Eu espero pelo tubo e não deixo desligar
Agüentarei o quanto puder
Até você chegar

Assinado :Teu Pai

 
 
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