VAZIO
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Oicram
Somar
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Ela saiu sem dizer uma palavra, uma palavra se quer. Olhou-me nos olhos, sentiu o cheiro, o meu tremor. A casa desarrumada, as pontas pelo chão, as garrafas nos quatro cantos, o capa de seu CD preferido em cima do som. Ela chegou mais cedo aquele dia, como quem não quer nada, só alguém para abraçar, dividir seus anseios, se misturar em meus sonhos. Ainda sonhei naquela noite com uma fera, que não me tocou, felina que era elegante e sincera, sabia discernir um Homem de um nada. Não me atacou, somente olhou e me cegou. Agora caminho no escuro, dia e noite sem nada enxergar, no vazio, sem nada por dentro. Ainda lembro do bilhete em cima da mesa: "Fique com tudo, eu saio sem nada". Fiquei eu, o nada, e com tudo a perder. |