TRANSPIRAÇÃO
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Ubirajara
Varela
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Há sete coisas que me fazem transpirar em grandes proporções. A
primeira delas é alongamento. Tenho o costume de fazer uma
sessão de doze a quinze minutos de alongamentos todas as manhãs.
Antes mesmo do desjejum. E eu suo em bicas. Talvez não seja
uma coisa muito normal suar tanto ao se fazer alongamentos, mas a
ginástica me traz um bem-estar que permanece ao longo de todo
o dia, acompanhando-me aonde eu vou. A
quarta são desenhos infantis. Aliás, não sei
bem se são os desenhos ou os programas infantis matinais. Me
dá um desespero ao ver aquelas apresentadoras loiras e burras
(desculpe-me a redundância) gritando, pulando, sorrindo, esperneando
e chamando as crianças de baixinhos. Seis: Persianas. Tenho uma loja de venda de cortinas e persianas. Às vezes, quando a demanda de pedidos é muito alta, tenho que ir fazer o serviço de instalação e, como as persianas têm um sistema particular de presilha, sempre transpiro muito ao instalar o material. Nada que uma toalha de rosto não resolva. Transpirar trabalhando é a única coisa que não me incomoda. Aquela velha história de suar a camisa. Meu pai soube infiltrar esta idéia na minha cabeça desde cedo. Por fim, a sétima coisa que me faz suar demasiadamente é quando fico sem idéias pra escrever textos inteligentes como este. Vai me dando uma angústia, um incômodo interno, quase espiritual, transcendente, kundalinioso (neologismo meu), que se converte em gotas e gotas e gotas e mais gotas de suor. Nestes momentos, a minha única opção é ficar nu. Tiro a roupa totalmente. Peladão. Exatamente como vim ao mundo: em traje completo! |
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