A
ESPERA
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Maria
Cláudia Mesquita
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Postou-se de frente para a casa daquela moça que ele não esquecia. Era manhãzinha, seis horas. Era um novo dia. O dia em que de vez ela o notaria. Dentro da casa, Carolina, sentia a manhã na maciez do edredom. O despertador tocou, mas o friozinho do início de inverno a convidava a ficar mais cinco minutos na cama. Sentou-se na cama devagar, e em gestos leves, felizes, espreguiçou cada músculo do seu novo dia. Levantou-se, abriu a torneira do chuveiro esquentando todo o banheiro. A água quente acolhia seu despertar de raciocínios e lembranças de seus afazeres. Do outro lado da rua Rafael já a esperava por mais de 40 minutos. Nunca ela o deixara tanto tempo plantado. Sentia-se como que formando raízes na calçada. Carolina escolheu sua roupa com calma e prazer. Gostava de se arrumar. Escolheu uma saia preta, botas pretas e uma malha azul de lã. Pintou seu rosto com suas próprias cores. Preparou um café e o tomou de pé mesmo. Agora estava mesmo desperta e podia sair para trabalhar. Rafael ainda esperava. Olhou para o relógio, sete e vinte. Seu sorriso já estava feito concreto, seu peito endurecido. Ela não tinha mesmo consideração. O telefone tocou e Carolina atendeu. Sua mãe a chamando para almoçar. Palavra, beijo, carinho. Desligou. Ele já se sentia sem nome. Um nada que ela desprezava. Carolina saiu. Quando colocou o pé na calçada olhou seu pulso, sete e meia, como sempre. Tinha duas quadras para caminhar dizendo bom dia e se alegrando do movimento e cores da manhã. Viu o rapaz que estava do outro lado. Ele parecia zangado e a olhava profundamente. Mesmo sem o reconhecer balançou a cabeça como cumprimento. Carolina notou Rafael e continuou a notar mesmo após se postar de costas e seguir seu destino. Ele, por sua vez, penetrou as costas dela e saiu pelo outro lado estampando uma flor vermelha na blusa azul. Ela, devagar como a manhã que acontecia, deitou-se lentamente na calçada. Ele a acomodou em seu colo. Olhava os olhos da moça que cantavam duas lágrimas de desespero. Sentia frio, na boca uma palavra muda e vermelha. Ele continuava a olhar em seus olhos de dizer: Por que você me fez esperar tanto, Maria? |