DOCE TRISTE DESPEDIDA
Vanessa C. Vaz

Ele saiu da minha vida pela porta da frente.

Num primeiro momento, ele não acreditou (nem eu). Ficou atrás da porta, esperando que abrisse para voltar. Ele bateu, bateu, bateu... tocou a campainha, gritou meu nome... mas a porta, que é dura e quadrada, não se mexeu.

Ele se afastou um pouco e passou a me observar do gramado. A grama era curta, mas verde. Aí veio a seca e começou a desbotar uma a uma das folhas...

Ele começou a dar voltas em minha casa. A princípio, parecia um animal dando voltas no território que acredita ser o dono. Queria apenas demarcar o território? Não, queria mais. Ele olhou pelas frestas e seus olhos o denunciaram. Corri e fechei todas as janelas. Também certifiquei de que as portas estavam trancadas.

Ele ficou do lado de fora, mas as lembranças entraram, sem pedir licença. Entraram ou nunca saíram?

Ele se afastou um pouco mais. Agora me observava do asfalto. Decidi então, espiá-lo. Olhei -o na rua e, por um momento, vi o cinza do asfalto misturar-se com o cinza do céu. Ele fazia parte da rua e a rua fazia parte dele? Parecia que ia chover. Talvez, devesse deixar ele entrar, só por um momento, enquanto durar a tempestade, pensei.

Abrir de fininho a porta dos fundos e chamei-o. Ele veio em minha direção, estava mais magro e abatido, mas os lábios sorriam. Ele chegou perto, deu-me um beijo, fitou-me com seus olhos cor de mel e depois saiu de minhas vistas. Meus olhos o perderam.
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