"Ah
quanta melancolia!
Quanta, quanta solidão!
Aquela alma, que vazia,
Que sinto inútil e fria
Dentro do meu coração!"
- Fernando Pessoa -
Meu
teto é de um branco polvilhado a cocô de mosquito. Contei
e recontei sessenta e sete cagadinhas desde segunda-feira. Ouvi minha
mãe falar no telefone que hoje é quinta. Já chorei,
já achei engraçado, chorei de novo: um cara de vinte e sete
anos ficar deitado o dia inteiro, sem vontade de comer, sem vontade de
amar, com vontade de morrer e às vezes de matar... Depressão,
bipolaridade, descompensação homonal, os cambal. Eles não
sabem, mas esse vazio que me irrita, corrói, achata, nada mais
é do que a minha vontade de saber para onde vou indo e o que será
depois. E ao contrário do que eles pensam, eu gosto disso. Estou
sofrendo, mas gosto. Estou morrendo, mas não vejo a hora em que
a dor se tornará grande a ponto de eu não suportar mais
e, finalmente, encontrar as respostas. E ai daquele que tentar me atrapalhar
com terapias, comprimidos e conselhos. Ai daquele que tentar roubar minha
felicidade e atrasar minha viagem. Caramba, mais uma ali: sessenta e oito.
He-he-he, sessenta e oito... |