TETO BRANCO-DIPTEROFÉZICO
Renato Bruno Neto
 
 

"Ah quanta melancolia!
Quanta, quanta solidão!
Aquela alma, que vazia,
Que sinto inútil e fria
Dentro do meu coração!"
- Fernando Pessoa -

Meu teto é de um branco polvilhado a cocô de mosquito. Contei e recontei sessenta e sete cagadinhas desde segunda-feira. Ouvi minha mãe falar no telefone que hoje é quinta. Já chorei, já achei engraçado, chorei de novo: um cara de vinte e sete anos ficar deitado o dia inteiro, sem vontade de comer, sem vontade de amar, com vontade de morrer e às vezes de matar... Depressão, bipolaridade, descompensação homonal, os cambal. Eles não sabem, mas esse vazio que me irrita, corrói, achata, nada mais é do que a minha vontade de saber para onde vou indo e o que será depois. E ao contrário do que eles pensam, eu gosto disso. Estou sofrendo, mas gosto. Estou morrendo, mas não vejo a hora em que a dor se tornará grande a ponto de eu não suportar mais e, finalmente, encontrar as respostas. E ai daquele que tentar me atrapalhar com terapias, comprimidos e conselhos. Ai daquele que tentar roubar minha felicidade e atrasar minha viagem. Caramba, mais uma ali: sessenta e oito. He-he-he, sessenta e oito...