INFINITO
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Oicram
Somar
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Para Luna "No abstrair, onde por pouco minha atenção te afronta", assim ela escreve: fina, elegante, lúcida. Engana-se, porém, na abstração e no sujeito. Não é por menos, sua "literatice" não lhe deixa saborear o seu doce veneno e afronta o antídoto onde só existe simulação: "de sua forte personalidade fugidia". Algo nela se esconde ou faz com que todos fujam dela? Quer a poesia ou quer se tornar A poesia? (...) "que ao mesmo tempo em que me força a uma nova linguagem me coloca de encontro a esferas jamais sentidas", ainda é cedo para um diagnóstico, mas tudo leva a crer que ela quer a morte do antipoético. Da prosa, talvez? Talvez em seu íntimo seu grito contido seja qualquer coisa como "de meu sentir inconsciente e primitivo", que ela resgata, melancólica, do abismo de seu ser, o qual não pode alcançar. Seu medo é de voar. Deveria esquecer os olhos alheios tentando decifrar suas marcas - ser lida e querer ser entendida é pedir demais. A quantos foi dada a sensibilidade que revela os mistérios do corpo da mulher? Leia-se: a concretude da alma, tal e qual os seus versos revelam. Aos iniciados e somente à eles é dado lê-los. (...), "me arrebatando a lucidez, e violentamente me jogando de encontro a minha insensates, inconsistente, cambaleante", é só o que ela quer: a totalidade. A vida é ordinária. ( )"forma indefinida de conteúdo abstrato, estranha maneira de dizer que me tens" e espera por alguém que lhe dê as mãos e lhe conduza segura ao nirvana. Sem aventurar-se? Antes a felicidade dos andarilhos, em estradas perdidas, que a loucura contida! Ela tem medo, ou não quer admitir: toda poesia é um risco, não existem poetas em porto seguro. Em Ubatuba senta à mesa de um bar, onde o Úterolouco rasga um blues: "enlouquecidamente te sinto por dentro como turbilhões, revolucionando todos os meus sistemas de pensamento e invertendo os meus fluxos sanguíneos, impondo um novo ritmo cardíaco e me fazendo sensível", e ela se desfaz em lágrimas. Doces lágrimas, de um tempo que não volta atrás. |