BOURBON
Luciana Pareja Norbiato
 
 

Pelos delicados sarrafos da janela de alto a baixo, que separa o quarto do hotel de sua pequena sacada, a luz do poste, reforçada por inúmeros letreiros luminosos dos cafés e bares e cabarés da rua boêmia, ilumina o corpo macio e branco deitado na cama. Sou eu no pós-amor.

Entre os dedos, o cigarro espiralando a grossa fumaça, o quarto recendendo à foda consumada _ainda sinto no baixo ventre e no clitóris o tremor do meu gozo estratosférico. Um pau grosso, ele me come como louco, animal.

Esfrega a cara em meus sucos, mormaço do corpo, lambendo-me os lábios, todos os que atendem pelo nome, no rosto e entre as pernas. Eu te quero e isso me dói gostoso. Teu cheiro invade minha boca e sorvo, sôfrega, ouvindo o seu resfolegar de trote de cavalo.

Logo mais você irá embora, eu entre dormindo, morta de amar, entre fumando e te querendo cada vez mais, outra vez mais. Vem para mim, entre em mim. Mas agora não há tempo, é manhã e logo voltaremos às nossas rotinas de matar, trabalho árduo, fogo fátuo, até voltarmos a nos encontrar, sem compromisso, com amor, com um desejo que explode o sangue em nossas veias e nos corrompe a razão. Para que razão?

Entre um encontro e outro, te espero, te entendo. A fumaça do cigarro, companheira, assinala o que se passa em minh'alma: a espera cálida, a entressafra, enquanto a próxima foda não vem. Uma lágrima esparsa rola face acima, deitada que estou com a cabeça em pêndulo, tentando manter em meu corpo o teu calor recente. Dói gostoso, te quero mais e mais e de novo.

 
 
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