MESMO DE BRINCADEIRA
|
Waldyr Argento Júnior
|
Niterói, 11 de Junho de 2006 A lua cheia clareando o céu no início da noite iluminava os sonhos do poeta que passeava pelas águas da Baía de Guanabara naquela antiga embarcação. Tudo isso o fez viajar para aquela praia linda onde conheceu a pequena, doce, bela e alva princesa com canto de sereia do mar. Talvez fosse o olhar triste que vinha do seu rosto, ou quem sabe, o brilho dos seus olhos que o levaram a abordá-la naquele dia de sol. O fato é que era noite de luar e a saudade o fazia lembrar dela. O dia seguinte deveria ser de festa, afinal era dia dos namorados e queria que fosse comemorado como a muito não fora. Pena que haviam brigado no fim-de-semana anterior e que os fones mudos celebravam em uníssono a canção do adeus. Na sua mente a suave melodia da famosa canção do quatorze bis: "Quando
o céu incendeia e acende uma estrela no coração É, e o poeta se viu beijando sua namorada. Lembrou do primeiro beijo tendo o mar e a areia branca como únicas testemunhas no fim de tarde na qual se conheceram. Recordou-se também que ficaram assistindo o pôr-do-sol ao mar tendo como fundo musical o som do "Bolero de Ravel, que ficaram curiosos a respeito do fato e resolveram perguntar ao dono do quiosque que lhes informou que era de praxe colocar aquela maravilhosa canção durante a cerimônia de despedida do Astro-rei. Beijaram-se mais algumas vezes e entornaram mais algumas saideiras. A noite que estava chegando parecia mágica. Poesia, amor, paz e canção. "Mesmo
de brincadeira eu sigo o que fala o coração Encontraram-se mais algumas vezes. Ele conheceu a família dela. Duas belas meninas, uma de dez anos e outra já de vinte. O poeta já estava começando a gostar da rotina. Cinema com a mãe e a pequenina. Chope com a turma toda no início da noite. E num dos poucos momentos em que ficaram novamente sozinhos o versejador virou novamente criança durante um namoro dentro do carro que o fez lembrar os tempos de adolescente. Foi quando ao final de um longo beijo escapou-lhe a seguinte frase: - Que vontade! - Que vontade de quê? - indagou-lhe a menina. "Que
vontade de te ver de querer te abraçar Agora em sua mente tão somente a doce melancolia da lembrança que se foi na solidão que imperava na âmago do poeta. No dia seguinte seria dia dos namorados, tantos planos e presente comprado. Mas, não havia de ser nada, afinal era época de copa do mundo então o melhor a fazer seria seguir o jargão: "Bola pra frente que é jogo de campeonato mundial". Quando então mais resquícios da canção invadiram a sua cabeça:
"Que imagino te ver... Lembrou-se então daquela noite que passara sozinho naquele restaurante onde várias vezes se encontraram, onde escrevera versos que pareciam sem nexo naquela época. Acho que o poeta já premeditava o fim do romance. Pediu um chope gelado e transcreveu na mesa o poema que havia escrito para celebrar o namoro que mal havia começado e que já chegara ao fim. Enfim, a poesia antiga parecia agora fazer sentido. VERSO
BRANCO 19/05/2006 (*)
Para Márcia.
|