DAQUI DE DENTRO
Lula Moura
 
 

A veste que envolve
e adorna a sua alma
me alcança, me acalma,
mesmo que eu não queira...

Olhando daqui, eu percebo.
Aos tolos, parece besteira.
Os braços abertos,
sorriso, colo e afeto...

Eu visto o que vejo,
e vejo o que sinto.
Eu sinto o seu vinho,
vindo de onde venha...

Seu corpo é conforto
aos meus sabores,
às minhas marcas,
meu passado de outras,
meus futuros desamores,
meu preto-e-branco
e minhas cores...

Nossa linguagem é a sensibilidade.
Assim te ouço, assim te digo.
É fato, é feto, é sua, é seu.
Inverto as forças e espero seu pranto,
que não vem. Forte que és.
Seu útero conclama:
seu neném, sou eu...

Minha cara terá espanto,
agradecimento e admiração.
- Quisera, pudera ! (direi)
Que venha o outono,
a primavera,
o inverno e verão...

Se tudo que digo é lugar comum,
que seja ao menos um lugar
como um, ou outro, que vi.
Como esse aqui dentro...

Depois que estiver aí fora, eu choro.
E quererei seu peito, seu carinho, meu leito,
meu carrinho, minhas fraldas, meu irmão, meu pai...

Já são nove luas no meu relógio.
É tempo de devolver o lado direito do seu sono...

Tô falando de você, MÃE !!!
Do fundo de mim.
Daqui de dentro, de você.
Só por algumas horas...